O sonho pela humanização, cuja concretização é sempre processo, e sempre devir, passa pela ruptura das amarras reais, concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica, etc., que nos estão condenando à desumanização. O sonho é assim uma exigência ou uma condição que se vem fazendo permanente na história que fazemos e que nos faz e refaz. Não sendo um a priori da história a natureza humana, que nela se vem constituindo, tem na vocação referida, uma de suas conotações.
É por isso que o opressor se desumaniza ao desumanizar o oprimido, não importa que coma bem, que se vista bem, que durma bem. Não seria possível desumanizar sem desumanizar-se tal a radicalidade social da vocação. Não sou se você não é, não sou , sobretudo, se proíbo você de ser.
Paulo Freire. Pedagogia da Esperança (um reencontro com a pedagogia do oprimido). Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2021. (pp. 137-138)