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Estava sentado numa sala anexa ao bloco operatório 
e uma enfermeira passou com o teu útero num saco de plástico transparente 
Com o teu útero com a minha primeira casa e a de meus irmãos 
ainda escorrendo sangue 
Uma pequena construção toda em pedra 
com divisões de tijolo e cal hidráulica 
e janelas abrindo para o vale 
Com o teu útero 
Com a memória do pão depois de levedado e da tua saia comprida cheia de  farinha  
Com a memória de uma gema de ovo 
Com o teu útero 
Com a memória de uns sapatos demasiado apertados 
Com a memória do giz e do ferro a carvão e dos alinhavos 
Na minha alma antes de ser posta à prova 
Com o teu útero 
Com a memória de uma véspera de Natal das rabanadas e da aletria 
E das águas que de súbito inundaram o soalho da cozinha 
Com a memória agitada dessas águas 
Com o teu útero 
Com a memória de uma explosão de mimosas 
Com a memória do cheiro a flor de laranjeira e a neroli 
Com o teu útero 
Que o anatomo-patologista dentro em pouco se encarregaria  de retalhar 
 Com a lâmina do bisturi                          
Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007.                                                    | 
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Jorge Sousa Braga, Litania
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magnífico.
ResponderEliminarMesmo Catarina! Um Abraço
ResponderEliminarOutro, Nuno.
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