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Nesse verão, o vento despenteou os campos e os barcos 
andaram aos gritos sobre as ondas. A beleza excessiva 
das crianças arrombou os espelhos; e as raparigas, 
surpreendendo a intimidade dos pais, enlouqueceram 
nos corredores e foram perder-se, também elas, 
na volúpia dos dias. Nas árvores centenárias 
rebentaram frutos que inflamavam a concha das mãos 
e escorregavam para a boca com a pressa dos nomes 
proibidos. O sol queimou as páginas do livro 
interrompido na violência de um poema e revirou 
os cantos do único retrato que resistira à moldura 
do tempo. De noite, os rapazes deitaram-se às baías 
atrás das estrelas; e os amantes, incomodados 
com a exiguidade dos quartos, foram fazer amor 
nos balneários frios da praia e acordaram nas vozes 
um do outro. Já não sei o que disse e o que disseste: 
o verão desarruma os sentimentos. 
Maria do Rosário Pedreira, Poesia Reunida, Quetzal, Lisboa, 2012.  
Retirado de Poems from the Portuguese CNC | 
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Maria do Rosário Pedreira: Nesse verão...
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