sábado, 10 de setembro de 2011

Sonata Paliulyte

Variação de um tema A Raposa e o Príncipe


Quando eu cavar o meu covil
Serei uma raposa indomável
Pêlo eriçado
Orelhas acesas
Vou mostrar os meus dentes
Vou aguçar as minhas garras
Vou congelar em silêncio
E não vou ficar
Só os meus olhos fluorescentes
Vão acender a densa escuridão
Apenas o contínuo
Som do rosnar
e os dentes brilhantes
para assustar aqueles que passam e ninguém
nem o mais pequeno
nem o príncipe ou o mendigo
tentará cativar a minha amizade
e ninguém será suficientemente corajoso,
para me domar
e golpear
o meu pêlo frisado
(nem despenteá-lo)
Aqui eu vou morrer
com um sorriso de raposa
os meus pequenos truques
irão levar a fim as suas tarefas
um cão de caça vai segurar o corpo
e o caçador
vai sacudir o lixo
da sua pele
e escova e golpeia-o, na penugem
a sua cabeça confirma:
- Esta foi a mais bonita
e a mais não-raposa de todas as raposas
pobrezinha, desapareceu tão cedo.



Auto-de-fé



O céu calmo
arremessa pedras de granito
para dentro do silêncio mudo

Na palma da mão fria
Os cactos de vidro
começam a falar.

Por cima do lento redemoinho,
branco tão branco
flocos de neve em colisão.

Na abóbada do céu
caracóis de negro
as nuvens ganham forma

devagar, devagar,
na palma da mão húmida
eles apressam-se a morrer


e os anjos terrenos
experimentam o tamanho
dos seus robes negros.


Tradução de Nuno Brito

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