domingo, 31 de julho de 2016

Jaime Sabines



Después de todo -pero después de todo-
sólo se trata de acostarse juntos,
se trata de la carne,
de los cuerpos desnudos,
lámpara de la muerte en el mundo.

Gloria degollada, sobreviviente
del tiempo sordomudo,
mezquina paga de los que mueren juntos.

A la miseria del placer, eternidad,
condenaste la búsqueda, al injusto
fracaso encadenaste sed,
clavaste el corazón a un muro.

Se trata de mi cuerpo al que bendigo,
contra el que lucho,
el que ha de darme todo
en un silencio robusto
y el que se muere y mata a menudo.

Soledad, márcame con tu pie desnudo,
aprieta mi corazón como las uvas
y lléname la boca con su licor maduro.


Jaime Sabines. Poesía Amorosa. Cidade do México: Editorial Planeta Mexicana, 1998.

Jaime Sabines

Me alegro de que el sol haya salido después de tantas horas: me alegro de que los árboles se estiren como quien sale de la cama; me alegro de que los carros tengan gasolina y de que yo tenga amor; me alegro de que éste sea el día 26 del mes; me alegro de que no nos hayamos muerto.

Me alegro de que haya gentes tristes, como esa muchacha que podría quererme si no quisiera a otro. Me alegro del bueno de Dios que me deja alegrarme.

¡Tilín, Pirrín! Yo estoy alegre: quiero hacerlo todo. No emborracharme con este vaso de tequila sino curar tu alma. Pararme de cabeza para que rías. Sacarte la lengua para que te aprietes la barriga.

Te muerdo debajo de la lengua, te ensalivo el pezón izquierdo, y sé que estoy cerca de tu corazón, ciertamente.

Mira, día: vamos a ser buenos amigos. No daré nada a nadie. Seré generoso: me arrodillaré en una esquina y extenderé mis manos abiertas. Que me den un centavo el sol, el hombre que pasa, las niñas que van a la escuela y hasta las viejecitas que vienen de la iglesia. Quiero ser bueno, como el que acaba de salir de la cárcel.

¡Salud, esqueletos!


Jaime Sabines. Poesía Amorosa. Cidade do México: Editorial Planeta Mexicana, 1998.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Eugénio de Andrade

Procuro-te

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.



ANDRADE, Eugénio de. Poesia. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005.

Oswald de Andrade

ditirambo

Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis

Nem uma sensualidade

ANDRADE, Oswald de. Poesias Reunidas. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1966.

Oswald de Andrade


sol

Uma vez fui a Guará
A Guaratinguetá
E agora
Nesta hora da minha vida
Tenho uma vontade vadia

Como um fotógrafo

ANDRADE, Oswald de. Poesias Reunidas. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1966.

Oswald de Andrade

Congonhas do campo

Há um hotel novo que se chama York
E lá em cima na palma da mão da montanha
A igreja no círculo arquitetónico dos Passos
Painéis quadros imagens
A religiosidade no sossego do sol
Tudo puro como o aleijadinho

Um carro de boi canta como um órgão


ANDRADE, Oswald de. Poesias Reunidas. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1966.

Oswald de Andrade

Alerta

Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira
Eles querem matar todo amor
Corromper o pólo
Estancar a sede que eu tenho doutro ser
Vem do flanco, de lado
Por cima, por trás
Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade.



Oswald de Andrade. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Ângelo de Lima


Pára-me de repente o Pensamento...
— Como se de repente sofreado
Na Douda Correria... em que, levado...
— Anda em Busca... da Paz... do Esquecimento
— Pára Surpreso... Escrutador... Atento
Como pára... um Cavalo Alucinado
Ante um Abismo... ante seus pés rasgado...
— Pára... e Fica... e Demora-se um Momento....
Vem trazido na Douda Correria
Pára à beira do Abismo e se demora
E Mergulha na Noute, Escura e Fria
Um Olhar d’Aço, que na Noute explora...
— Mas a Espora da dor seu flanco estria...
— E Ele Galga... e Prossegue... sob a Espora!



Ângelo de Lima. Poesias Completas. Lisboa: Assírio & Alvim, 1991.

domingo, 3 de julho de 2016

Leonardo Fróes: Mulheres de milho


Milhares de mulheres de milho
brotam do meu olho calado como espigas
fortes. No ar elas se endireitam

como folhudas criaturas carnosas
que ao vento se transmudam, de fêmeas,
em formosos penachos machos.

Acho graça na cruza; penso nisso
que é ser mulher a passo
de, sob a vertigem solar, virar confusa

hibridação. Abro-me. Brinco
de me dar. Rapto-me e opto-me
como se eu mesmo fosse me comer inteiro

enquanto as coisas simplesmente nascem.

Leonardo Fróes, partilhado a partir de Modo de Usar