sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Luiza Neto Jorge



O seu a seu tempo

  
Pouco tempo um objecto
pertence à sua matéria
se bem que cada vez menos o tempo
me preocupe
e a matéria seja uma hora
de os objectos estarem.

Que se misturem os fogos
que os descobridores descubram
o que sempre no exterior
existe por encontrar.
Que os utensílios criem
o novo utensílio capaz
de tudo dizer de si.

A maioria dos actos (concretos?)
atingiu a sua audácia
produziu-se um novo método
de estar noutra superfície.
Para esse vário objecto
para essa criatura vária
o líquido o livro tu
a corrente a rua a tua face
pelo seu acto de correr
pelo seu acto de ser lido
pelo seu acto de prender
de correr de ser corrido
pelo meu acto de inventar presos
no edifício que eu para vós
levantei

para vós oh para vós me volto
voz transposta a quanto de mim liberto
vós trabalhos mortais
voz da mais aberta entrada

volto a essa vária pessoa
que quereria deter a ti
te estendo uma corda
um mar um terreno livre
sem que com isso consiga
olhar-te por todos os lados
sem que com isso prossiga sendo
o teu órgão de amor.

Acho-me é o meu domínio
em perseguição automática
todo o eixo da gramática tendo à
disposição

as móveis vertigens diárias
os écrans de cinema os eixos
as pernas da máquina tuas pernas
mais concretas
as árvores postas em marcha
noutra genealogia (noutra velocidade)
vindo um ramo contínuo saído da sua raiz
à raiz da minha ideia

A ti te estendo uma corda
um mar uma cadeira
eléctrica
que aí repenses o crime, o próximo
solo, a dor.

Crime, ou o pássaro talvez
escondido na árvore
ambulante,
talvez uso imoderado que deres às tuas
armas ao teu luxo de estar vivo
à tua paz, de liberto

ou um encontro permanente sobre o
terreno livre.

Luiza Neto Jorge, O seu a seu tempo.

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