Mas eu percebia um primeiro rumor como o de um coração batendo debaixo da terra. Colocava
quietamente o ouvido no chão e ouvia o verão abrir caminho por dentro e o meu
coração embaixo da terra – “nada! Eu não disse nada!” – e sentia a paciente
brutalidade com que a terra fechada se abria por dentro em parto, e sabia com
que peso de doçura o verão amadurecia cem mil laranjas e sabia que as laranjas eram minhas. Porque
eu queria.
Clarice Lispector, Água Viva.
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