sábado, 13 de dezembro de 2014

Nuno Júdice


Génese

Desfaço nos olhos o azul do céu, e
deito-o na página, com um brilho de manhã
à mistura. As palavras cintilam, numa
breve alquimia de luz. Depois, voltam
ao primeiro significado, mas o que leio
é já outra coisa. O azul fica envolto
numa espuma de oceano; a manhã
tem a frescura do fruto que se acabou
de colher; a página estende-se até
ao fim da imaginação, onde outros
continentes se abrem. E o rosto que
nela se imprime tem a tua cor, a tua
pele, o vermelho dos teus lábios,
o mármore divino do dia que nasce
quando, nos olhos, desfaço
o azul do céu.


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