É. Mas parece
que chegou o instante de aceitar em cheio a misteriosa vida dos que um dia vão
morrer. Tenho que começar por aceitar-me e não sentir o horror punitivo de cada
vez que eu caio, pois quando eu caio a raça humana em mim também cai.
Aceitar-me plenamente ? É uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada
projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda a
minha palavra tem um coração onde circula sangue.
Clarice
Lispector, Um Sopro de Vida (Pulsações),
Lisboa, Relógio D’Água, 2012.
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