E de repente gemi alto, dessa vez ouvi meu gemido. É que como um
pus subia à minha tona a minha mais verdadeira consistência – e eu sentia com
susto e nojo que “eu ser” vinha de uma fonte muito anterior à humana e, com
horros, muito maior que a humana.
Abria-se em mim, com uma lentidão de portas de pedra, abria-se em
mim a larga vida do silêncio, a mesma que estava no sol parado, a mesma que
estava na barata imobilizada. E que seria a mesma em mim! se eu tivesse coragem
de abandonar… de abandonar meus sentimentos? Se eu tivesse coragem de abandonar
a esperança.
Clarice Lispector. A Paixão segundo GH. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
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