Levamos os cigarros à boca da medula
e é por ela que fumamos o ruído das
nossas
vidas de cinza digo agora que também eu
recomecei a fumar.
E é falso dizeres
que esse silêncio que teces é o mesmo
dos teus dezanove anos parece-me a mim
que arranho o meu até à ferida.
Encostas o corpo à matemática do mundo
eu encosto o corpo ao nada que me
assiste
e procuramos na noite qualquer coisa
que já nem nos pertence é provável
delapidações pedras mansas
esta forma tão doente de viver.
Ainda que sustemos a escuridão apenas
com cafés e ginger ale's e cigarros
que se apagam de um minuto para o outro
tão barato e mau é o tabaco
e ainda que acabemos por desistir
do último cigarro que nunca fumaremos
esse que nos traria a explicação da
noite
da luz das palavras do silêncio do ardor
do desejo
com a certeza de que o dia
seguinte começará
muito próximo do fim.
António
Amaral Tavares. Movimento de terras.
Lisboa: Língua Morta, 2016.
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