domingo, 20 de dezembro de 2015

Os poemas sobre barcos


Talvez os textos mais perfeitos do nosso tempo estejam a ser escritos na nossa língua e falem do sepultamento dos navios, talvez só possamos falar sobre barcos, de países inteiros que se sentam à volta de uma mesa, de bandeiras que se abraçam.

Talvez só possamos falar de barcos numa cama, nas traseiras de um livro, com o Livro de Cesário Verde como mastro, vela e capitão do olhar, Guardador de Rebanhos todo sublinhado a verde - A minha pátria é a língua portuguesa e a minha família é o meu país – e talvez não haja Portugal, mas sim uma mistura ignóbil de "estrangeiros do interior" a governar-nos e a estropiar-nos o resto do que somos. (Pessoa, Carta a um herói estúpido) - Talvez esteja apenas cruel, frenético, exigente e não querer ver mais sofrimento em nenhuma cara do meu país seja a minha bandeira: bandeira imaterial de cor nenhuma, haste completa, cheia pelo vento quente como uma saia que abana lá em cima. Essa eu abano, com essa eu celebro, a essa eu bebo, essa eu abraço no tempo certo e não deixo cair.

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