Talvez os textos
mais perfeitos do nosso tempo estejam a ser escritos na nossa língua e falem do
sepultamento dos navios, talvez só possamos falar sobre barcos, de países
inteiros que se sentam à volta de uma mesa, de bandeiras que se abraçam.
Talvez só possamos
falar de barcos numa cama, nas traseiras de um livro, com o Livro de Cesário
Verde como mastro, vela e capitão do olhar, Guardador de Rebanhos todo
sublinhado a verde - A minha pátria é a
língua portuguesa e a minha família é
o meu país – e talvez não haja Portugal, mas
sim uma mistura ignóbil de "estrangeiros do interior" a governar-nos
e a estropiar-nos o resto do que somos. (Pessoa, Carta a um herói estúpido) -
Talvez esteja apenas cruel, frenético,
exigente e não querer ver mais sofrimento em nenhuma cara do meu país seja
a minha bandeira: bandeira imaterial de cor nenhuma, haste completa, cheia pelo
vento quente como uma saia que abana lá em cima. Essa eu abano, com essa eu
celebro, a essa eu bebo, essa eu abraço no tempo certo e não deixo cair.
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