O Desenhador de Sóis: O
meu coração
O meu coração é um boi
que atravessa este campo quente com seus olhos húmidos
mais as moscas que o
picam de cada lado das orelhas,
é uma aguarela de
criança com os seus traços seguros
Que deixou pequenos
restos de areia, terra e alguns pelos de pincel
no centro do sol - O
meu coração é uma memória do sol em cada célula,
uma vontade de rir, Tão quente e tão quente -
de tudo e de tudo…
O meu coração é um
campo de girassóis,
Um pintor de olhos
grandes que desenha caminhos a lápis de cor,
as fontes, o feno, o
guarda-rios mais a sua família feliz
e um grande sol central
no meio da cartolina,
por ele bebo a jorros,
com os olhos todos:
Com a vida inteira.
O meu coração é uma
criança que tira catotas do nariz
E tem no bolso o lenço
mais sujo e mais seco que o avô lhe deu
O meu coração é só meu
coração e não tem iniciais nem nome nem roupa,
E bombeia a música para
todo o lado como qualquer coração feliz
E dança e brinca e
agora mesmo ele é uma enchente de nós todos.
O meu coração é das
cores mais quentes, das cores do fogo,
Nele se beijam as
memórias mais doces e os faroleiros descansam
Depois de dar luz a tantos
barcos na noite mais longa do ano.
Olha então de frente a
nascente disto tudo e enche-se de luz,
sou então um animal
feliz e abro muitos livros;
deixo tudo sublinhado:
as casas, as ruas, as paisagens
os policias, os cães
policias, o que as pessoas dizem e contam,
os segredos e os que os
guardam,
O meu coração deixa a
vida toda sublinhada a marcador fluorescente,
E escreve em todas as
margens, e apaga e reescreve e completa e une,
e deita-se ao fim da
noite para descansar, completo e cheio como um pôr do sol,
saciado e feliz como um
vento quente que faz tremer as folhas lá em cima
e
nasce e nasce e nasce ainda a cada instante.
Nuno Brito
Sem comentários:
Enviar um comentário