1.
Retratação pelas
unhas dos
pés,
agora em sangue no
açougue NUDE
baixo guia pelo
meio
formas frias
estranha CINZA
polegares carne
crua,
cruel.
Silêncio exibe
pontas
noite do faquir
disforme
– não dorme,
dorme –
o medo aflora ROXO
aromas, suores.
Repetida vida
treme e
sangra pelos
poros.
2.
Mulher brava os
seios doem
sobrancelhas
grossas os seios doem, sinalizam.
O chá estragado, essa
unidade da dor
a mãe confunde:
noite
hoje. Noite hoje
de
sovacos e testas
essa unidade sem
fim o corpo – o
irmão
o corpo dói.
Incomodava a noite
a memória paralela
da dor, essa
unidade da dor
– não incide
– grita esse
mote: MATE
morte sem fim.
Os cabelos são
brancos e
caem.
3.
a pergunta
hesitação demora a resposta grande
dispersa em branco
mindinho sobre a pauta
fatia fracta das
vias
como estão seus
seios
sua palavra
mãe
sua forma insone
onde no seu
movimento
dói
em que vago traço
a existência
dos cacos
fere finos espaços
veias fluxo vago
você interrompe?
4.
se dedo pequeno no
pé puder projetar
se no solo feito
háluxsuperpoderoso.
um pote vazio
cinzeiro fósforo
medula abismal
encolha dos seios interrupção
verbete inóspito
túmulo
túmulo
túmulo.
momento a mão
olha
sem desatenção,
atenta a mão olha.
osso a osso rarefeita.
5.
acaricia enxofre a
mão enorme
espeta insone
miúdos fumos
ninguém amacia a
via daninha
dragões ou
armaduras passos nem regressos.
ramifica a escuta
o cabelo
eco
o cabelo enorme
acelera os passos eco.
por aqui ninguém.
6.
(O cordão do
entendimento passava
necessariamente
pelo
buraco da pia que
breve, nas grandes cidades,
urgentes como são,
daria no esgoto
centenário)
7.
Cadaverizar o
relógio de
pulso preso pelas
cordas do
tempo, sucede.
Cronológico
destino azeda,
investe contra o
que lia,
relia
no livro dos
cruzados dias,
ásperos ares.
Antecede a rima. O
metro
da medida morna
consola apressada
vidraria.
Submete a ira.
Ainda ontem –o
ponteiro –
transparente guia.
Vagaroso engano,
o ruído mede o
vate
verossímil.
Joga hoje
essa mortalha
herege
grita e principia.
8.
Sob o altar
obsceno
esconde o diâmetro
do
esquema corporal.
Existência
chaminé,
evidência própria,
concêntrica.
Adesão móbile das
dimensões
biológicas, Cogito sensório,
riso histérico.
9.
No centro do
precipício há um pêndulo hipnótico,
o seu rosto a
fascinar os dias, movimento irregular,
gama de dedos a
multiplicar o ventre.
No contorno do
abismo,
distensão das
horas máximas ultrapassadas pelo instante.
Permanece ave
cintilante quando gaita do futuro,
incursões pelo destino
de dois:
meu fundo,
seu dorso,
minha abertura
angular.
Nossos traços
flores abismais, peixe finíssimo das marés, vasos invencíveis,
nosso ciclo.
Apreciação dos
cheiros, seu gesto inunda os meus espaços,
a loucura abocanha
a noite, essa massa espessa que demarca o tempo.
Seu tom, seu dom,
meu modo medo de espasmo lúbrico.
Hidrografia
semeada na permuta: você, meu outro, ouro dos dias,
face incógnita do
valor das horas.
Do outro lado de
nós,
chumbo receio do
falecimento permanece, minha
visão irremediável
do que possa haver além,
sua morte anoitece
os olhos, anuncia o incolor dos tempos,
dissipa.
10.
as flores
entremeiam gestos
anunciam cores
agudas e,
revelando todos os
segredos, súbitas somem.
suas formas de
esconder-se, o esforço de ter de buscá-lo entre palavras.
êxtase perceptivo
– seu estado de indeterminâncias, suas arestas irreparáveis, seu contorno
amplo, brusco: ruído, cheiro, gosto.
indício elementar
e já não está mais ali, fugaz a sua tara,
a desenvoltura do
mote pelo o toque, o susto, vento violento,
lisura das escamas
escorregam lancinantes.
a proximidade
imperiosa acentua o trecho
o olho percorrendo
breve.
a pupila. o
traçado circular
o único possível
desvenda o termo
de todas as coisas e
permanece
11.
Me consignei ao
estômago
quando se tratava
de fome.
Ao espaço faltavam
pernas corrediças,
o anúncio da
contagem das horas.
O meu lume.
A noite acende os
tumores sem que
se possa
saber
do corpo
o mapa
a musculatura
distendida
a ordem de
disposição
a mancha verde no
canto da perna
medo pulmonar
preenchendo cinzeiros.
Dizendo que sim, a
cabeça balança ávida
coleta de sangue
400 ml.
12.
Detestamentário de
uma tabagista
Quando eu morrer,
joga minhas cinzas sobre o meu corpo
12.
Sobre suas
palavras em minha boca
Para Juliana
Amato, a amiga.
Calada pensou que
valeria, valia.
Retirava-se
daquela bagunça
toda
– coisas
dela – sobre o que decidira (e sem
mais).
Diversidade de
pessoas, de berros, pareciam animais.
No retorno
naquele dia roxo
nos milhares de
nós que, obrigada a desatar,
desatou.
Vitupérios:
vituperava, vituperava.
Todos os anos lhe
valeram uma única porrada,
porradíssima na
boca do estômago
bastaria.
O amor não vale
nada
O amor não presta
e fede
O amor é
ordinário, vagabundo
O amor é uma coisa
barata e nada a ver
O amor é uma
balada pop.
13.
inseto indagativo
desorganiza a
melodia e
dança, calça suas
patas
reúne aves peixes
mangagás insetos
adivinha bafos
jimbo pássaro se
abre
jimbo concha se
abre
transe erótico das
tripas,
atravessa
avessa
magia inseta magia
alada mulher
(ataques fêmeos)
figa chave lesa
fresta
brecha, brecha.