Não tenhas medo de
confessar que me sugaste o sangue
E engravataste
chagas no meu corpo
E me tiraste o mar
do peixe e o sal do mar
E a água pura e a
terra boa
E levantaste a
cruz contra os meus deuses
E me calasse nas
palavras que eu pensava.
Não tenhas medo de
confessar que te inventasse mau
Nas torturas em
milhões de mim
E que me cavas só
o chão que recusavas
E o fruto que te
amargava
E o trabalho que
não querias
E menos da metade
do alfabeto.
Não tenhas medo de
confessar o esforço
De silenciar os
meus batuques
E de apagar as
queimadas e as fogueiras
E desvendar os
segredos e os mistérios
E destruir todos
os meus jogos
E também os
cantares dos meus avós.
Não tenhas medo,
amigo, que te não odeio.
Foi essa a minha
história e a tua história.
E eu sobrevivi
Para construir
estradas e cidades a teu lado
E inventar
fábricas e Ciência,
Que o mundo não
pode ser feito só por ti.
Fernando Sylvan (Díli 1917- Díli 1993)
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