sábado, 20 de julho de 2013
As Coisas Conhecidas
Não são coisas se lhes soubermos os limites,
Conhecermos as formas, o volume, a superfície.
As coisas conhecidas são pedras e poemas. E o teu nome
sempre infiltrado nos versos.
Colecciono-as: pedras. Clecciono-os: poemas.
Tenho por hábito roubá-los. E, todavia, possuo apenas uma
coisa conhecida. Colhida numa praia de vidro
fundido pelo ar quente do Adriático, a pedra polida
é o melhor poema (o nosso melhor poema).
Guardo-a no bolso, onde meto a mão;
guardo-a na mão, onde se encaixa,
fria, macia, perfeita, uma pedra cinzenta,
a única coisa conhecida.
Leio-a. Tem o teu nome.
Largo-a
ao sentir o peso que lhe falta.
Como as andorinhas anunciam a Primavera,
os papeis velhos têm outros mistérios a anunciar:
o teu nome e a impossibilidade de o roubar.
Não é deste tempo. Não pertence a ninguém.
Inês Fonseca Santos, in As Coisas. Lisboa: Editora Abysmo, 2012.
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