quarta-feira, 30 de abril de 2014
Fernando Pessoa: Crónica Decorativa I
CRÓNICA DECORATIVA
I
A circunstância humana
de eu ter amigos fez com que ontem me acontecesse vir a conhecer o Dr. Boro,
professor da Universidade de Tóquio. Surpreendeu-me a realidade quase evidente
da sua presença. Nunca supus que um professor da Universidade de Tóquio fosse
uma criatura, ou sequer cousa, real.
O Dr. Boro — sinto que
me custa doutorá-lo — pareceu-me escandalosamente humano e parecido com gente.
Vibrou um golpe, que me esforço por desviar de decisivo, nas minhas ideias
sobre o que é o Japão. Trajava à europeia, e, como qualquer mero professor
existente da Universidade de Lisboa, tinha o casaco por escovar. Ainda assim,
por delicadeza, dei-me por ciente, durante duas horas, da sua presença próxima.
Preciso explicar que as
minhas ideias do Japão, da sua flora e da fauna, dos seus habitantes humanos e
das várias modalidades de vida que lhes são próprias, derivam de um estudo
demorado de vários bules e chávenas. Eu por isso sempre julguei que um japonês
ou uma japonesa tivesse apenas duas dimensões- e essa delicadeza para com o
espaço deu-me uma afeição doentia por aquele país económico de realidade. O
professor Boro é sólido, tem sombra — várias vezes fiz com que o meu olhar o
verificasse — e além de falar e falar inglês, coloca ideias e soluções
compreensíveis dentro das suas palavras. A circunstância de que as suas ideias
não comportam nem novidade nem relevo apenas o aproxima dos professores
europeus, pavorosamente europeus, que conheço.
Além disto o professor
Boro tem movimento, desloca-se, não sei como, de um lado para o outro, o que,
feito perante quem sempre teve o Japão por uma nação de quadro, parada e apenas
real sobre transparência de louça, é requintadamente ordinário e desiludidor.
Falávamos de política
internacional, da guerra europeia, e fizemos várias incursões pelos vários
fenómenos literários característicos da nossa época. A ignorância que o
professor Boro tinha de futurismo foi a única benzina para a nódoa da sua
realidade moderna. Mas há algum professor de alguma Universidade da Europa que
siga de perto os movimentos da arte contemporânea?
Dados os factos que
venho explicando, compreende-se que eu fosse avaro de o interrogar sobre o
Japão. Para quê? Ele era capaz de atirar para dentro da minha ignorância uma
quantidade de cousas falsas. Quem sabe se ele se atreveria a insinuar pela
conversa fora, como cousa normalmente acreditável, que no Japão há problemas
económicos, dificuldades de vida para várias pessoas, cidades com lojas reais,
campos com colheitas como as nossas, exércitos realmente parecidos com os da
Europa e com execráveis aperfeiçoamentos científicos para guerras em verdade
contemporâneas? Daqui ele não hesitaria talvez em me afirmar — com que cinismo
nem eu meço — que no Japão os homens têm relações sexuais com as mulheres, que
nascem crianças, que a gente de lá, em vez de estar sempre vestida como as
figuras da louça japonesa, despe-se e veste-se como se fosse europeia. Por isso
não tratámos do Japão. Perguntei ao professor se ele tinha tido uma boa viagem,
e ele caiu em dizer-me que não — como se um estudioso como eu da porcelana
nipónica pudesse admitir que há más viagens para os japoneses, que — delicioso
povo! — nem sequer se dá ao trabalho de existir. As chávenas partem-se, não
comportam tormentas. A frase «uma tempestade num copo de água» ou «numa
chávena», como dizem outros, é puramente europeia.
Uma frase houve (casual,
quero crer, no professor Boro) que me magoou mais do que outra.
Falávamos — eu, é claro,
com o desprendimento com que se tratam estes assuntos feéricos — da influência
dos mecanismos sobre a psicologia do operário, quando se sabe — claro está —
que o operário não tem psicologia. E o professor referiu-se aos progressos
industriais do Japão e acrescentou umas palavras, que me esforcei com metade de
êxito para não ouvir, sobre (creio) movimentos operários no Japão e um
fuzilamento (suponho) de não sei que chefe socialista. Eu há tempos — numa
coluna sem dúvida humorística de um diário — vira em um telegrama de Tóquio
constando qualquer cousa nesse tom; mas, além de não crer que de Tóquio se
mandasse telegramas — visto Tóquio não ter mais do que duas dimensões —,
ninguém que como eu tenha estudado a psicologia japonesa através das chávenas e
dos pires admite progressos de qualquer espécie no Japão, indústrias japonesas,
movimentos socialistas e chefes socialistas, ainda por cima fuzilados, como
quaisquer europeus que vivem. Quem como eu conhece bem o Japão — o verdadeiro
Japão, de porcelana e erros de desenho — compreende bem a incompatibilidade
entre o progresso, indústria e socialismo, e a absoluta não existência daquele
país. Socialistas japoneses! uma contradição flagrante, uma frase sem sentido,
como «círculo quadrado»! Se nem o inexistente estivesse livre do socialismo!
Aquelas figuras deliciosas, eternamente sentadas ao pé de casas do tamanho
delas, à beira de lagos absurdos, de um azul impossível, aquém de montanhas
totalmente irreais — essas maravilhosas figuras, com uma perfeita e patriótica
individualidade japonesa, não pertencem decerto ao horroroso mundo onde se progride,
e onde sobre o artista desabam a morbidez do produtivo e a barbárie do
humanitário.
E vem querer tirar-me
estas convicções o professor Boro, da Universidade de Tóquio! Não mas tira. Não
é para ser enganado pela primeira realidade que se me atira aos olhos que eu
tenho gasto minutos distensos na contemplação científica e estéril de bules e
chávenas japonesas. O mais provável, a respeito deste Boro, é que nascesse em
Lisboa e se chame José. Do Japão, ele? Nunca.
Se ao menos achei achei
japonesa a sua cara? Absolutamente nada. Basta dizer que era real e existiu ali
diante de mim, duas dolorosas horas, em plena ocupação inestética de todas as
dimensões aproveitáveis (felizmente só três) do espaço autêntico. A sua cara
parecia-se, é certo, com certas fotografias de «japoneses» que as ilustrações
trouxeram há anos, e de vez em quando reincidindo trazem; mas toda a gente que
sabe o que é o Japão por nunca lá ter ido, sabe de cor que aquilo não são
japoneses. E, de mais a mais, essas ilustrações eram principalmente de
generais, almirantes, e operações guerreiras. Ora é absolutamente impossível
que no Japão haja generais, almirantes e guerra. Como, de resto, fotografar o
Japão e os japoneses? A primeira cousa real que há no Japão é o facto de ele
estar sempre longe de nós, estejamos nós onde estivermos. Não se pode lá ir,
nem eles podem vir até nós. Concedo, se me forçarem a isso, que existam um
Tóquio e um Iocoama. Mas isso não é no Japão, é apenas no Extremo Oriente.
O resto da minha vida,
doravante, será escrupulosamente dedicado a esquecer o professor Boro e que ele
— impronunciável absurdose sentou na cadeira que está agora, na realidade de
madeira, defronte de mim. Considero doentio esse facto, alucinatório talvez, e
entrego-me com assiduidade a não me lembrar dele mais. Um japonês verdadeiro
aqui, a falar comigo, a dizer-me cousas que nem mesmo eram falsas ou
contraditórias! Não. Ele chama-se José e é de Lisboa. Falo simbolicamente, é
claro. Porque ele pode chamar-se Macwhisky e ser de Inverness. O que ele não
era decerto era japonês, real, e possível visitante de Lisboa. Isso nunca.
Desse modo não havia ciência, se o primeiro ocasional nos viesse negar o que os
nossos estudos assíduos nos fizeram ver.
Professor Boro, da
Universidade de Tóquio? De Tóquio? Universidade de Tóquio? Nada disso existe.
Isso é uma ilusão. Os inferiores e cábulas de nós construíram, para se não
desorientarem, um Japão à imagem e semelhança da Europa, desta triste Europa
tão excessivamente real. Sonhadores! Alucinados!
Basta-me olhar para aquela bandeja, pegar
cariciosamente com o olhar naquele serviço de chá. Depois venham falar-me em
Japão existente, em Japão comercial, em Japão guerreiro! Não é para nada que,
através de esforços consecutivos, a nossa época ganhou o duro nome de científica.
Japoneses com vida real, com três dimensões, com uma pátria com paisagens de
cores autênticas! Lérias para entretimento do povo, mas que a quem estudou não
enganam...
1914
Ficção e Teatro. Fernando
Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins:
Europa-América, 1986
- 65.
D.H. Lawrence
Figos
A maneira correcta de comer um figo à mesa
É parti-Io em quatro, pegando no pedúnculo,
E abri-Io para dele fazer uma flor de mel, brilhante, rósea, húmida,
desabrochada em quatro espessas pétalas.
Depois põe-se de lado a casca
Que é como um cálice quadrissépalo,
E colhe-se a flor com os lábios.
Mas a maneira vulgar
É pôr a boca na fenda, e de um sorvo só aspirar toda a carne.
Cada fruta tem o seu segredo.
O figo é uma fruta muito secreta.
Quando se vê como desponta direito, sente-se logo que é simbólico:
Parece masculino.
Mas quando se conhece melhor, pensa-se como os romanos que é
uma fruta feminina.
Os italianos apelidam de figo os órgãos sexuais da fêmea:
A fenda, o yoni,
Magnífica via húmida que conduz ao centro.
Enredada,
Inflectida,
Florescendo toda para dentro com suas fibras matriciais;
Com um orifício apenas.
O figo, a ferradura, a flor da abóbora.
Símbolos.
Era uma flor que brotava para dentro, para a matriz;
Agora é uma fruta, a matriz madura.
Foi sempre um segredo.
E assim deveria ser, a fêmea deveria manter-se para sempre
secreta.
Nunca foi evidente, expandida num galho
Como outras flores, numa revelação de pétalas;
Rosa-prateado das flores do pessegueiro, verde vidraria veneziana
das flores da nespereira e da sorveira,
Taças de vinho pouco profundas em curtos caules túmidos,
Clara promessa do paraíso:
Ao espinheiro florido! À Revelação!
A corajosa, a aventurosa rosácea.
Dobrado sobre si mesmo, indizível segredo,
A seiva leitosa que coalha o leite quando se faz a ricotta,
Seiva tão estranhamente impregnando os dedos que afugenta as
próprias cabras;
Dobrado sobre si mesmo, velado como uma mulher muçulmana,
A nudez oculta, a floração para sempre invisível,
Apenas uma estreita via de acesso, cortinas corridas diante da luz;
Figo, fruta do mistério feminino, escondida e intima,
Fruta do Mediterrâneo com tua nudez coberta,
Onde tudo se passa no invisível, floração e fecundação, e maturação
Na intimidade mais profunda, que nenhuns olhos conseguem
devassar
Antes que tudo acabe, e demasiado madura te abras entregando
a alma.
Até que a gota da maturidade exsude,
E o ano chegue ao fim.
O figo guardou muito tempo o seu segredo.
Então abre-se e vê-se o escarlate através da fenda.
E o figo está completo, fechou-se o ano.
Assim morre o figo, revelando o carmesim através da fenda púrpura
Como uma ferida, a exposição do segredo à luz do dia.
Como uma prostituta, a fruta aberta mostra o segredo.
Assim também morrem as mulheres.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano,
O ano das nossas mulheres.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Foi desvendado o segredo.
E em breve tudo estará podre.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Quando no seu espírito Eva soube que estava nua
Coseu folhas de figueira para si e para o homem.
Sempre estivera nua,
Mas nunca se importara com isso antes da maçã da ciência.
Soube-o no seu espírito, e coseu folhas de figueira.
E desde então as mulheres não pararam de coser.
Agora bordam, não para esconder, mas para adornar o figo aberto.
Têm agora mais que nunca a sua nudez no espírito,
E não hão-de nunca deixar que o esqueçamos.
Agora, o segredo
Tornou-se uma afirmação através dos lábios húmidos e escarlates
Que riem perante a indignação do Senhor.
Pois quê, bom Deus! gritam as mulheres.
Muito tempo guardámos o nosso segredo.
Somos um figo maduro.
Deixa-nos abrir em afirmação.
Elas esquecem que os figos maduros não se ocultam.
Os figos maduros não se ocultam.
Figos branco-mel do Norte, negros figos de entranhas escarlates do Sul.
Os figos maduros não se ocultam, não se ocultam sob nenhum clima.
Que fazer então quando todas as mulheres do mundo se abrirem na
sua afirmação?
Quando os figos abertos se não ocultarem?
D.H. Lawrence (1885-1930)
terça-feira, 29 de abril de 2014
Roberto Bolaño: Playa (Conto)
Dejé la
heroína y volví a mi pueblo y empecé con el tratamiento de metadona
que me suministraban en el ambulatorio y poca cosa más tenía que hacer salvo
levantarme cada mañana y ver la tele y tratar de dormir por la noche, pero no
podía, algo me impedía cerrar los ojos y descansar, y ésa era mi rutina, hasta
que un día ya no pude más y me compré un trajebaño negro en una tienda del
centro del pueblo y me fui a la playa, con el trajebaño puesto y una toalla y
una revista, y puse mi toalla no demasiado cerca del agua y luego me estiré y
estuve un rato pensando si darme un baño o no dármelo, se me ocurrían muchas
razones para hacerlo, pero también se me ocurrían algunas razones para no
hacerlo (los niños que se bañaban en la orilla, por ejemplo), así que al final
se me pasó el tiempo y volví a casa, y a la mañana siguiente compré una crema
de protección solar y me fui a la playa otra vez, y a eso de las 12 me marché
al ambulatorio y me tomé mi dosis de metadona y saludé a
algunas caras conocidas, ningún amigo o amiga, sólo caras conocidas de la cola
de la metadona que se extrañaron de verme en trajebaño, pero yo como si nada, y
luego volví caminando a la playa y esta vez me di el primer chapuzón e intenté
nadar, aunque no pude, pero eso ya fue suficiente para mí, y al día siguiente
volví a la playa y me volví a untar el cuerpo con protección solar y luego me
quedé dormido sobre la arena, y cuando desperté me sentía muy descansado, y no
me había quemado la espalda ni nada de nada, y así pasó una semana o tal vez
dos semanas, no lo recuerdo, lo único cierto es que cada día yo estaba más
moreno y aunque no hablaba con nadie cada día me sentía mejor, o diferente, que
no es lo mismo pero que en mi caso se le parecía, y un día apareció en la playa
una pareja de viejos, de eso me acuerdo con claridad, se veía
que llevaban mucho tiempo juntos, ella era gorda, o rellenita, y debía de andar
por los 70 años aproximadamente, y él era flaco, o más que flaco, un esqueleto
que caminaba, yo creo que eso fue lo que me llamó la atención, porque por regla
general apenas me fijaba en la gente que iba a la playa, pero en éstos me fijé
y la causa fue la delgadez del tipo, lo vi y me asusté, coño, es la muerte que
viene a por mí, pensé, pero no venía a por mí, sólo era un matrimonio viejo, él
de unos 75 y ella de unos 70, o al revés, y ella parecía gozar de buena salud,
y él hacía pinta de que iba a palmarla en cualquier momento o de que ése era su
último verano, al principio, pasado el primer susto, me costó alejar mi mirada
de la cara del viejo, de su calavera apenas recubierta por una delgada capa de
piel, pero luego me acostumbré a mirarlos con disimulo, tirado en la arena,
bocabajo, con la cara cubierta por los brazos, o desde el paseo, sentado en un
banco frente a la playa, mientras fingía que me quitaba la arena del cuerpo, y
me acuerdo que la vieja siempre llegaba a la playa con un parasol bajo cuya
sombra se metía presurosa, sin bañador, aunque a veces la vi con bañador, pero
más usualmente con un vestido de verano, muy amplio, que la hacía parecer menos
gorda de lo que era, y bajo el parasol la vieja se pasaba las horas leyendo,
llevaba un libro muy grueso, mientras el esqueleto que era su marido se tiraba
sobre la arena, vestido únicamente con un trajebaño diminuto, casi un tanga, y
absorbía el sol con una voracidad que a mí me traía recuerdos lejanos,de
yonquis disfrutando inmóviles, de yonquis concentrados en lo que hacían, en lo
único que podían hacer, y entonces a mí me dolía la cabeza y me iba de la
playa, comía en el Paseo Marítimo, una tapa de anchoas y una cerveza, y después
me ponía a fumar y a mirar la playa a través de los ventanales del bar, y luego
volvía y allí seguía el viejo y la vieja, ella debajo de la sombrilla, él
expuesto a los rayos del sol, y entonces, de manera irreflexiva, a mí me daban
ganas de llorar y me metía en el agua y nadaba, y cuando ya me había alejado
bastante de la orilla miraba el sol y me parecía extraño que estuviera allí,
esa cosa grande y tan distinta de nosotros, y luego me ponía a nadar hasta la
orilla (en dos ocasiones estuve a punto de ahogarme) y cuando llegaba me dejaba
caer junto a mi toalla y me quedaba mucho rato respirando con dificultad, pero
siempre mirando hacia donde estaban los viejos, y luego tal vez me quedaba
dormido tirado en la arena, y cuando me despertaba la playa ya empezaba a
desocuparse, pero los viejos seguían allí, ella con su novela bajo la sombrilla
y él bocarriba, en la zona sin sombra, con los ojos cerrados y una expresión
rara en su calavera, como si sintiera cada segundo que pasaba y lo disfrutara,
aunque los rayos del sol fueran débiles, aunque el sol ya estuviera al otro
lado de los edificios de la primera línea de mar, al otro lado de las colinas,
pero eso a él parecía no importarle, y entonces, en el momento de despertarme yo
lo miraba y miraba el sol, y a veces sentía en la espalda un ligero dolor, como
si aquella tarde me hubiera quemado más de la cuenta, y luego los miraba a
ellos y luego me levantaba, me ponía la toalla como capa y me iba a sentar en
uno de los bancos del Paseo Marítimo, en donde fingía quitarme la arena que no
tenía de las piernas, y desde allí, desde esa altura, la visión de la pareja
era distinta, me decía a mí mismo que tal vez él no estuviera a punto de morir,
me decía a mí mismo que el tiempo tal vez no existía tal como yo creía que
existía, reflexionaba sobre el tiempo mientras la lejanía del
sol alargaba las sombras de los edificios, y luego me iba a casa y me daba una
ducha y miraba mi espalda roja, una espalda que no parecía mía sino de otro
tipo, un tipo al que aún tardaría muchos años en conocer, y luego encendía la
tele y veía programas que no entendía en absoluto, hasta que me quedaba dormido
en el sillón, y al día siguiente vuelta a lo mismo, la playa, el ambulatorio,
otra vez la playa, los viejos, una rutina que a veces interrumpía la aparición
de otros seres que aparecían en la playa, una mujer, por ejemplo, que siempre
estaba de pie, que jamás se recostaba en la arena, que iba vestida con la parte
de abajo de un bikini y con una camiseta azul, y que cuando entraba en el mar
sólo se mojaba hasta las rodillas, y que leía un libro, como la vieja, pero
estaba mujer lo leía de pie, y a veces se agachaba, aunque de una manera muy
rara, y cogía una botella de pepsi de litro y medio y bebía, de pie, claro, y
luego dejaba la botella sobre la toalla, que no sé para qué la había traído si
no se tendía nunca sobre ella y tampoco se metía en el agua, y a veces esta
mujer me daba miedo, me parecía excesivamente rara, pero la mayoría de las
veces sólo me daba pena, y también vi otras cosas extrañas, en la playa siempre
pasan cosas así, tal vez porque es el único sitio en donde todos estamos medio
desnudos, pero que no tenían demasiada importancia, una vez creí ver a un ex
yonqui como yo, mientras caminaba por la orilla, sentado en un montículo de
arena con un niño de meses sobre las piernas, y otra vez vi a unas chicas
rusas, tres chicas rusas, que probablemente eran putas y que
hablaban, las tres, por un teléfono móvil y se reían, pero la verdad es que lo
que más me interesaba era la pareja de viejos, en parte porque tenía la
impresión de que el viejo se iba a morir en cualquier instante, y cuando
pensaba esto, o cuando me daba cuenta de que estaba pensando esto, el resultado
era que se me ocurrían ideas disparatadas, como que tras la muerte del viejo
iba a ocurrir un maremoto, el pueblo destruido por una ola gigantesca, o como
que iba a ponerse a temblar, un terremoto de gran magnitud que haría
desaparecer el pueblo entero en medio de una ola de polvo, y cuando pensaba lo
que acabo de decir ocultaba la cabeza entre las manos y me ponía a llorar, y
mientras lloraba soñaba (o imaginaba) que era de noche, digamos las tres de la
mañana, y que yo salía de mi casa y me iba a la playa, y en la playa encontraba
al viejo tendido sobre la arena, y en el cielo, junto a las otras estrellas,
pero más cerca de la Tierra que las otras estrellas, brillaba un sol negro, un
enorme sol negro y silencioso, y yo bajaba a la playa y me tendía también sobre
la arena, las dos únicas personas en la playa éramos el viejo y yo, y cuando
volvía a abrir los ojos me daba cuenta de que las putas rusas y la chica que
siempre estaba de pie y el ex yonqui con el niño en brazos me contemplaban con
curiosidad, preguntándose acaso quién podía ser aquel tipo tan raro, el
tipo que tenía los hombros y la espalda quemados, y hasta la vieja me observaba
desde la frescura de su sombrilla, interrumpida la lectura de su libro
interminable por unos segundos, preguntándose tal vez quién era aquel joven que
lloraba en silencio, un joven de 35 años que no tenía nada, pero que estaba
recobrando la voluntad y el valor y que sabía que aún iba a vivir un tiempo
más.
terça-feira, 22 de abril de 2014
Vitorino Nemésio: A Vida e Tempo
Com alma, ideias, tempo, luta
Componho um homem, sou sujeito:
Penso-me livre numa gruta
Como pretérito imperfeito.
De era se faz o meu futuro,
Será será o meu passado
Como da hera se faz muro
Mais que de pedra levantado.
Se horas a nada levam tudo,
Nada nasceu, tudo é que é,
Haja ou não haja Sartre e o mudo
Deus Tudo-Nada havido em fé.
Que ele e Deus mesmo no absoluto
Ser contestado, tão essente
Que se faz Deus na voz que escuto,
Mesmo que o negue, e me desmente.
31-07-1959
Vitorino Nemésio, (O Verbo e a
Morte).
Daniel Jonas: Nó
Do ventre da baleia ergui meu
grito:
Senhor! (dizer teu nome só é bom),
Em fé, em fé o digo, mesmo com
Um coração pesado e contrito
Que és de tudo verdade e não mito,
O coração do amor, de todo o dom,
Conquanto seja raro o bem e o bom
E toda a luz aqui me falhe, és grito
Que chama toda a chama de esperança
E acorda a luz que resta à réstia eterna,
Conquanto viva o mártir na espelunca
Da vida (quem espera amiúde alcança)…:
Possa o nazireu preso na cisterna
Sofrer de ser só tarde mas não nunca.
Daniel Jonas, in «Nó». Assírio & Alvim
Em fé, em fé o digo, mesmo com
Um coração pesado e contrito
Que és de tudo verdade e não mito,
O coração do amor, de todo o dom,
Conquanto seja raro o bem e o bom
E toda a luz aqui me falhe, és grito
Que chama toda a chama de esperança
E acorda a luz que resta à réstia eterna,
Conquanto viva o mártir na espelunca
Da vida (quem espera amiúde alcança)…:
Possa o nazireu preso na cisterna
Sofrer de ser só tarde mas não nunca.
Daniel Jonas, in «Nó». Assírio & Alvim
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Joaquim Namorado
Foi afixado
nos locais do costume
que É PROIBIDO MENDIGAR.
Logo mão que se descobre
Escreveu a tinta por baixo
MAS NÃO É PROIBIDO SER POBRE.
Joaquim Namorado, (A Poesia
Necessária).
Vitorino Nemésio
Pão Nosso
Cortava o pão ainda uma faca bota.
Da música dos ninhos não se ouvia uma nota.
Da música dos ninhos não se ouvia uma nota.
Que o pão cortado não deve
Coisa aérea alterar:
Flores, aves, tudo isso é leve
E suor do rosto é pesar.
Pão nosso, quanto mais duro
Mais a água gosto tem.
Linho branco, pinho escuro:
Assim é que sabe bem.
Vitorino Nemésio, (Nem toda a Noite a Vida)
Vitorino Nemésio
O sol fechou o dia
Sem mão nem chave;
A pouca luz que havia
Deu-a para uma ave.
Então a ave selou
Com seu sono seu ninho,
E a terra toda amou
Na casa do passarinho.
Um ovo é como uma chave,
Mas só abre a vida às penas.
Apetece ser ave,
Ter as mágoas pequenas.
Vitorino Nemésio, (Eu, Comovido a Oeste)
sexta-feira, 18 de abril de 2014
R. W. Emerson
Cada novo acto da experiência individual lança uma luz sobre o que fizeram
os grandes conjuntos humanos e as crises do individuo fazem referência às
crises nacionais.
(…)
Tudo o que Shakespeare diz ao Rei, o rapaz que o lê numa esquina crê que é aplicável a si mesmo.
Tudo o que Shakespeare diz ao Rei, o rapaz que o lê numa esquina crê que é aplicável a si mesmo.
(…)
O homem devia ver
que pode viver toda a história na sua própria pessoa.
(…)
Vivenciamos
continuamente os factos mais destacados da História da Humanidade na nossa
experiência individual, no sítio e momento exacto em que nos encontramos. Não
há propriamente História, mas só Biografia.
(…)
Devemos ver em nós
mesmos a razão necessária de todos os factos.
Ralph Waldo Emerson, História in
Ensaios Escolhidos (1841).
Shane MacGowan: Rainy Night in Soho: (The Pogues)
I've been loving you a long time
Down all the years, down all the days
And I've cried for all your troubles
Smiled at your funny little ways
We watched our friends grow up together
And we saw them as they fell
Some of them fell into Heaven
Some of them fell into Hell
I took shelter from a shower
And I stepped into your arms
On a rainy night in Soho
The wind was whistling all its charms
I sang you all my sorrows
You told me all your joys
Whatever happened to that old song
To all those little girls and boys
Sometimes I wake up in the morning
The gingerlady by my bed
Covered in a cloak of silence
I hear you talking in my head
I'm not singing for the future
I'm not dreaming of the past
I'm not talking of the first time
I never think about the last
Now the song is nearly over
We may never find out what it means
Still there's a light I hold before me
You're the measure of my dreams
The measure of my dreams
domingo, 13 de abril de 2014
Inês Fonseca Santos
Por muito que
…como se correr perigo não fosse
talvez a minha mais profunda razão de vida
Ruy Belo
Como se correr perigo não fosse
talvez
a minha mais profunda
incapacidade
(por muito que os
significantes possam significar)
escrevo melhor nos sítios onde o
papel se desfaz
durante o mergulho
no banho
à chuva
num dilúvio, sei, teria escrito
apenas
isto
Inês Foneca Santos, in Revista Correntes de Escrita, 2014.
Plínio, o Jovem
Nunca li um livro tão mau que não me permitira tirar o mínimo proveito dele.
Plínio, o Jovem.
Citado a partir de Tristan Shandy - Laurence Sterne
Laurence Sterne: Tristan Shandy
Ao Muito Honorável Mr. Pitt
Senhor:
Jamais pobre embrião de autor de
uma dedicatória depositou menos esperanças na sua das que eu depositei na
minha; porque lhe escrevo num canto afastado do reino, numa casita retirada
onde vivo consagrado a combater sem trégua e com alegria os achaques da doença e outros males da vida, pois
estou plenamente convencido de que cada vez que um homem sorri, - e com maior
motivo se ri, acrescenta algo a este Fragmento de Vida.
Humildemente vos rogo, Senhor, que
honreis este livro, tomando-lho, - (não baixo a vossa proteção, - que ele
sozinho se irá proteger, mas) – mas para levá-lo para o campo; e se chega aos
meus ouvidos que ele o fez sorrir, ou se penso, que em algum momento, ele vos fez poupar um pouco de
sofrimento – me considerarei feliz como um ministro de estado; - talvez mais
feliz do que todos aqueles que conheço de palestras ou de conferências.
Laurence Sterne, Vida e Opiniões de Tristan Shandy. Volume I (1750)
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Bertolt Brecht: Sobre o pobre B.B.
1.
Eu, Bertolt Brecht, sou dos bosques
negros.
A minha mãe levou-me às cidades
estando ainda no seu ventre. E o
frio dos bosques
vai acompanhar-me até à morte.
2.
Na cidade de asfalto estou como em
casa. Desde
o
princípio
fui provido de todos os viáticos:
De jornais. E tabaco. E aguardente.
Desconfiado e preguiçoso, sinto-me,
no final, contente
3.
Sou amigável com a gente. Ponho
um chapéu segundo o seu costume.
Digo: são bestas com um cheiro
muito especial.
E digo: não importa, também eu sou.
4.
Pelas manhãs nos sofás vazios
sinto um par de mulheres,
despreocupado contemplo-as e
digo-lhes:
aqui têm alguém em quem podem
confiar.
5.
Ao anoitecer reúno-me com os
homens,
Todos nos tratamos de gentleman.
Eles põe os seus pés sobre as
mesas.
E dizem: As coisas vão melhorar. E
eu não pergunto: «Quando?»
(…)
Bertolt Brecht, Poesia (1918-1933).
domingo, 6 de abril de 2014
Paulo Leminski
Invernáculo
Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.
Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
Paulo Leminski
António Botto: Balofas carnes de balofas tetas
Balofas carnes de
balofas tetas
caem aos montões
em duas mamas pretas
chocalhos velhos a
bater na pança
e a puta dança.
Flácidas bimbas sem
expressão nem graça
restos mortais de uma
cusada escassa
a quem do cu só lhe
ficou cagança
e a puta dança.
A ver se caça com
disfarce um chato
coça na cona e vai
rompendo o fato
até que o chato
de morder se cansa
e a puta dança.
caem aos montões
em duas mamas pretas
chocalhos velhos a
bater na pança
e a puta dança.
Flácidas bimbas sem
expressão nem graça
restos mortais de uma
cusada escassa
a quem do cu só lhe
ficou cagança
e a puta dança.
A ver se caça com
disfarce um chato
coça na cona e vai
rompendo o fato
até que o chato
de morder se cansa
e a puta dança.
António Botto
Eugénio de Andrade
MATÉRIA SOLAR
5.
Claro que os desejas, esses corpos
onde o tempo não enterrou ainda
os cornos fundos – não é o desejo
o amigo mais íntimo do sol?
Que os desejas, como se cada um
deles fosse o último, último corpo
que o teu corpo tivesse para amar.
13.
Aqui me tens, conivente com o sol
neste incêndio do corpo até ao fim:
as mãos tão ávidas no seu voo,
a boca que se esquece no teu peito
de envelhecer e sabe ainda recusar.
18.
Eu amei esses lugares
onde o sol
secretamente se deixava acariciar.
Onde passaram lábios,
Onde as mãos correram inocentes,
O silêncio queima.
Amei como quem rompe a pedra,
ou se perde
na vagarosa floração do ar.
25.
Cala-te, a luz arde entre os lábios
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
esta perna é tua?, é teu este
braço?,
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente à tua boca,
abre-se a alma à língua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi fácil, nunca,
também a terra morre.
28.
Dormíamos nus
no interior dos frutos.
É o que temos: sono
e a estiagem subitamente
até ao fim.
Amargos.
Pela humidade descia-se
às fontes – lembro-me.
Dos lábios.
46.
Olha. Já nem sei de meus dedos
roídos de desejo, tocava-te a
camisa,
desapertava um botão,
adivinhava-te o peito cor de trigo,
de pombo bravo, dizia eu,
o verão quase no fim,
o vento nos pinheiros, a chuva
pressentia-se nos flancos,
a noite, não tardaria a noite,
eu amava o amor, essa lepra.
Eugénio de Andrade – Matéria Solar
(1980).
Grande Angular
I.
Quis ser realizador de cinema mudo
e captar a
câmara negra, o registo quente e solar:
do teu sorriso, monólito aceso de obsidiana e
voo perfeito, captar num ângulo Múltiplo um abraço e
tudo que é gente e Sobe
ser só ângulo de encontro e perda, tudo o que queima, derrete e chove
Sonho de borboleta africana, pirilampo e urso polar;
Concerto de muitos sinos e do Chile inteiro no fundo do mar,
unir os sonhos por novelos de espuma
Recheá-los de tudo o que está por fundir,
Ser a Gente que veio e a Gente que há-de vir
II.
Unir dois sonhos numa grande angular
Induzir a Pluto que se torne gente e só vontade de errar,
Comboio que acende e passa a fronteira
Comboio com todas as pontas acesas, só Desejo de Abraçar...
Nuno Brito.
Luca Argel: Susie and de Merman
Os gregos antigos e os nativos
americanos não sabiam, mas deram o mesmo nome à Ursa Maior.
(Desculpe se te dou notícias velhas)
A constelação sequer parece com um urso, parece?
Não, não parece.
Não deveríamos acreditar tanto nesse tipo de milagre.
Aos franceses parecia uma caçarola, aos nórdicos a carruagem de Odin, aos egípcios um
carro de boi.
(E o que mais você viu na vida foram milagres)
Qual a diferença?
Bom, a mim parece um joystick com fio.
Posso configurá-lo:
A constelação sequer parece com um urso, parece?
Não, não parece.
Não deveríamos acreditar tanto nesse tipo de milagre.
Aos franceses parecia uma caçarola, aos nórdicos a carruagem de Odin, aos egípcios um
carro de boi.
(E o que mais você viu na vida foram milagres)
Qual a diferença?
Bom, a mim parece um joystick com fio.
Posso configurá-lo:
-Prima Dubhe para fazê-la girar
sobre o próprio eixo.
-Prima Merak para fazê-la adormecer.
-Prima Megrez para fazê-la redistribuir a temperatura.
-Prima Alioth para fazê-la recordar conversas antigas.
-Prima Benetnasch para fazê-la trocar de anéis.
-Prima Phecda para para trazê-la para perto se estiver longe e para longe se estiver perto.
-Prima Mizar para fazê-la despertar em duas tentativas.
-Prima Alcor para fazê-la respirar mais devagar.
-Prima Merak para fazê-la adormecer.
-Prima Megrez para fazê-la redistribuir a temperatura.
-Prima Alioth para fazê-la recordar conversas antigas.
-Prima Benetnasch para fazê-la trocar de anéis.
-Prima Phecda para para trazê-la para perto se estiver longe e para longe se estiver perto.
-Prima Mizar para fazê-la despertar em duas tentativas.
-Prima Alcor para fazê-la respirar mais devagar.
(Desculpe se não lhe dou notícia
alguma)
Não há o que se fazer com elas - mas o que mesmo você pretendia fazer com uma notícia?
Eu já não me chateio mais com esse tipo de coisa.
Agora peço ao carteiro que deixe sempre a minha correspondência no café ao lado.
Digo-te uma frase que ouvi: "Não há duas pessoas no mundo que comam da mesma
maneira".
Digo-te uma coisa que lembro: o ritmo de um número de telefone.
E que os cavalos marinhos também não se lembram de seus próprios nomes se eles tiverem
mais de três sílabas.
Não há o que se fazer com elas - mas o que mesmo você pretendia fazer com uma notícia?
Eu já não me chateio mais com esse tipo de coisa.
Agora peço ao carteiro que deixe sempre a minha correspondência no café ao lado.
Digo-te uma frase que ouvi: "Não há duas pessoas no mundo que comam da mesma
maneira".
Digo-te uma coisa que lembro: o ritmo de um número de telefone.
E que os cavalos marinhos também não se lembram de seus próprios nomes se eles tiverem
mais de três sílabas.
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