Perto do fogão
Ponho a sopa a aquecer num tacho
pequeno.
sentado perto do fogão,
pouso os braços na mesa vazia.
Encosto ligeiramente a cabeça na
parede
enquanto ouço o som da sopa ao
lume.
Passados uns minutos, uma pequena
sombra
percorre tranquilamente a parede,
mergulhando
na penumbra o relógio, uma factura
da E.D.P., o calendário,
a fotografia de família...
A ligeira corrente de ar
que passa perto de mim
leva o meu ouvido na direcção do pequeno
rádio portátil,
que toca baixinho, e
deixa-me o outro ouvido
sobre o fogão. Fico à escuta.
Dentro de mim vou remisturando uma
música
que desenha no meu espírito
imagens,
algumas delas são bem fáceis de
visualizar
mas outras são tão simples que se
perdem,
deixando-me abandonado no ar,
rodeado de uma luz ligeira e suave.
João Miguel Queirós, in Poetas sem qualidades, Lisboa, Averno,
2002.
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