«Dê-me uma menina» - que outra
mais irrecusável maneira
de pedir uma cerveja diminuta?
Pois é, leitor, estamos outra vez
na mais bela praça de Lisboa,
com taberna a condizer.
Benilde, ao balcão, diz que está
com «cara de dores», talvez morra
- diz ela - este ano. O pior
é sempre o sofrimento, ninguém
o duvida, ninguém.
Mas entretanto a morte
entra nesta taberna
vestida de corpo aposentado
- e senta-se devagar, peida-se
devagar, olha-me fixamente,
tanto quanto a miopia lhe permite.
Bebe sôfrega a morte e peida-se
ainda. Não jogamos xadrez,
nem sequer dominó - isto não é
Bergman, é apenas a vida(?),
pouco dada a estéticas.
O amor, talvez o amor, é
lá fora brando, louro e feliz.
Talvez ele, para quem o possa ter
nesta tarde em declínio,
cheio de sol baixo e pombas.
«Estamos perdidos e ninguém nos pode
achar», diz ainda Benilde ao balcão,
mais sucinta, penetrante e pura
do que alguma vez foi ou será
um verso meu ou de outrem.
Razão de silêncio, dirá o leitor.
Eu bendigo a sombra, contemplo-a devagar
no rosto sem estrofes de Benilde ao Balcão.
mais irrecusável maneira
de pedir uma cerveja diminuta?
Pois é, leitor, estamos outra vez
na mais bela praça de Lisboa,
com taberna a condizer.
Benilde, ao balcão, diz que está
com «cara de dores», talvez morra
- diz ela - este ano. O pior
é sempre o sofrimento, ninguém
o duvida, ninguém.
Mas entretanto a morte
entra nesta taberna
vestida de corpo aposentado
- e senta-se devagar, peida-se
devagar, olha-me fixamente,
tanto quanto a miopia lhe permite.
Bebe sôfrega a morte e peida-se
ainda. Não jogamos xadrez,
nem sequer dominó - isto não é
Bergman, é apenas a vida(?),
pouco dada a estéticas.
O amor, talvez o amor, é
lá fora brando, louro e feliz.
Talvez ele, para quem o possa ter
nesta tarde em declínio,
cheio de sol baixo e pombas.
«Estamos perdidos e ninguém nos pode
achar», diz ainda Benilde ao balcão,
mais sucinta, penetrante e pura
do que alguma vez foi ou será
um verso meu ou de outrem.
Razão de silêncio, dirá o leitor.
Eu bendigo a sombra, contemplo-a devagar
no rosto sem estrofes de Benilde ao Balcão.
Manuel de Freitas, Os Infernos Artificiais, Lisboa,
Frenesi, 2001.
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