terça-feira, 24 de setembro de 2013

António Ramos Rosa

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta

ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração



António Ramos Rosa, (17 de Outubro 1924 - 23 de Setembro 2013)
ROSA, António Ramos (1985), Matéria de Amor, Lisboa, Presença. 

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