domingo, 1 de dezembro de 2013

João Luís Barreto Guimarães

15 de Agosto

Acontecem-nos por vezes coisas que não nos ocorre reter. Deixamos que o instante as leve e escrever é estar atento a esse fluxo de palavras, é saber dar-lhes quarto se visitam nossa morada. Conhecer um poeta também podia ser isso, ouvi-lo nesses instantes, lê-lo enquanto os vive, o que é bem diferente de ter aquilo que quis enterrar no papel. Existe portanto um livro onde estão as palavras todas. Podemos segurar-lhe a capa e escolher de dentro aquela que melhor sirva o poema. É por isso que nos chegam pessoas de toda a parte , em busca daquelas linhas que por nós não foram escritas. Querem ser nossos amigos, ir connosco pelos Cafés, sair pela luz da praia, pela pedra das ruas, ouvir-nos falar das coisas que nos estão a acontecer e não nos lembramos de guardar boiando sobre papel, porque descem na corrente da memória até à voz. É que a todo o instante acontecem coisas que era importante reter, e são essas coisas poesia no seu estado mais puro.


in Cintilações da Sombra, Antologia Poética (Coordenação de Victor Oliveira Mateus, Núcleo de Artes e Letras de Fafe, Ed. Labirinto. 

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