Há
poucos anjos que chorem
muitos
poucos lobos que uivem cegos como a flecha.
Acenderam-se
as sombras. É o Inverno fervendo o poema
ao
desconcerto geográfico das pétalas do gelo.
E
enquanto a terra molda um cordeiro
para
alimentar as ervas
a
língua com suas cabeças prodigiosas, pulcras e cruéis
desperta
os fantasmas brancos dos inocentes animais da melancolia
os
que sucumbem iludidos pelo cheiro
das
sílabas incendiárias
harmoniosas
como as virgens flores da Primavera.
-
Húmidas, dobradas na nuca.
Eis
um tempo absolutamente bárbaro
porque
os embriagados demónios ou deuses das palavras
trabalham
ferozmente treinando os prisioneiros como arquipélagos
pois
os figos maduros apodrecem nos gonzos
que
suportam a escrita dos labirintos. Saúdo-te detrás do sol e da lua
onde
apenas refulgem as horríveis cores das metástases
linguísticas
– as raízes carnívoras dos lugares
que
se espalham aos corpos nativos de luz – sob aquela frágil
e
descomunal oração de Pavese: virá a morte e terá os teus olhos.
E
virá a sílaba alucinada e serás aniquilado
sob
a aurora. As novas idades com o fogo dentro da boca dos lírios.
-
Adolescentes, perversas no beijo.
Onde
guardar a benévola catacrese do espigão
o
coração surgido como um ímpeto agachado na poética
do
jogo acerbo e fundo
na
boca que vira faca e corta os lábios no silêncio nu
ó
insane quimioterapia de bem querer
colocar
todos os sonhos no intrínseco sexo de oiro – a vida e a morte
em
seu rizoma sagrado – num poema inapreensível e único.
João Rasteiro
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