Bati com o nariz na mesa do café
ao perguntar ao tipo se eras tu.
Disse que não, mas pensei que era o
teu humor a espraiar-se
no tampo para me cair sorrateiro e
quente no vestido azul
e insisti no riso
interrompido por um
guarde o sorriso para si que eu não
lho pedi.
Tremi como quem arranca a primeira
asa da mosca
e fiquei mosca, amputada e fácil de
esmagar.
Quando nos damos em excesso ficamos
pequeninos.
Todo o meu corpo encolheu e me
estranha.
As horas passam menos tu.
Estou cega, tateio por ti.
Casaco preto e cabelo castanho.
Casaco preto e cabelo castanho.
Não sei se és pintor, poeta,
palhaço,
se usas calças rotas, boné ou
biqueira de aço.
Nunca liguei aos parênteses.
Só preciso que me encontres e me
ames.
Só isso. O resto ganha-se e
perde-se numa corrente d’ar.
Não te atrases com as credenciais.
Esperar faz-me ficar feia.
Esperar faz-me ficar feia.
Cecília Ferreira, in O Amor em visita: Colectânea de poemas sobre
o amor, Porto, Poetria, 2013.
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