SOBRE OS
ESTÓICOS, porquê escrever sobre eles? Nunca fora exposto um mundo tão sombrio e
tão agitado: os corpos… mas as qualidades também são corpos, os sopros e as
almas são corpos, as próprias ações e as paixões são corpos. Tudo é mistura de
corpos, os corpos penetram-se, forçam-se, envenenam-se, imiscuem-se,
retiram-se, reforçam-se ou destroem-se, como o fogo penetra no ferro e o faz
ficar vermelho, como aquele que come devora a sua presa, como o amoroso penetra
no amado. «Há carne no pão e pão nas ervas, estes corpos e tantos outros entram
em todos os corpos, por condutas escondidas, e evaporam-se juntos…» Horrível a
refeição de Tieste, incestos e devoramentos, doenças que se elaboram nos nossos
flancos, tantos corpos que brotam do nosso.
Gilles Deleuze e Claire Parnet, Diálogos, Lisboa, Relógio d’água, 1996.
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