em
chamas
setas, facas de muitos gumes
por mais dilacerar, cortar, rasgar
assim se tem falado do amor. A
ferida em flor
disseste, a morte, a morte! em arroubo
e transporte
o mais correr do sangue a esvair-se
em lentidão: antítese a fogo
frio, tremor e clamor, voz chamando
sem nenhum ruído, o chão
ardido em lume repentino, as mãos
em voo a nada, e quase perto
se infinito.
Assim teremos dito, pelos séculos,
todos, muitas vezes repetindo
tempo sobre tempo, um depois de
outro, êxtase e lamento
e num momento tudo – e depois, a
vinda
e o avesso
por figuras:
o pobre imaginar
que inteiros nos levasse inteiro
e dele não haver regresso
ou desenlace
Rosa Maria Martelo, Matéria, Lisboa, Averno, 2014.
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