terça-feira, 24 de junho de 2014

Rosa Maria Martelo. Transporte

em
chamas

setas, facas de muitos gumes
por mais dilacerar, cortar, rasgar
assim se tem falado do amor. A ferida em flor
disseste, a morte, a morte! em arroubo e transporte
o mais correr do sangue a esvair-se em lentidão: antítese a fogo
frio, tremor e clamor, voz chamando sem nenhum ruído, o chão
ardido em lume repentino, as mãos em voo a nada,    e quase perto
     se infinito.
Assim teremos dito, pelos séculos, todos, muitas vezes repetindo
tempo sobre tempo, um depois de outro, êxtase e lamento
e num momento tudo – e depois, a vinda
e o avesso

por figuras:

o pobre imaginar
que inteiros nos levasse inteiro

e dele não haver regresso
ou desenlace

  
Rosa Maria Martelo, Matéria, Lisboa, Averno, 2014.

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