A hora inclina-se e toca-me
com golpe claro, metálico:
Tremem-me os sentidos. Sinto: eu posso –
e agarro o dia plástico.
Nenhuma coisa era perfeita antes de eu a olhar,
todo o devir parara.
A cada um dos meus olhares, agora já maduros,
vem como noiva, a coisa apetecida.
Nada é pequeno para mim, e amo-o apesar de tudo
e pinto-o em fundo de ouro, e grande,
e ergo-o ao alto, e não sei a quem
libertará a alma…
Rainer Maria Rilke, Poemas,
As Elegias de Duino e Sonetos a Orfeu, Porto, O Oiro do Dia. 2000.
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