I.
Organonon[1]
a mão manifesta:
quando
manifesta
esconde. Azul
pelo vitral meia
manhã tanto
pelo lado
esquerdo, como
direito, a luz.
por um segundo
olhava-a nas
mãos. Suspenso
(no centro da
simetria) ele tocava
um órgão alto. mas
nesse instante, só
as mãos tocavam:
sem ele
(ele via). por
cima dos seus ombros, muito mais
do lado nascente
(afinal meia manhã) vinha pelo vitral, o
azul nas mãos:
sem ele. nenhuma vontade, como se
tudo já fora
feito. música por si. As mãos nada
agarravam,
tocando em tudo
só um som: o
sopro longuíssimo
de um órgão
alto. e lá atrás
do som, do
êxtase, vitral, da simetria
escondido, só um
mesmo movimento
de um homem
pequeno no fole.
II
[relato posterior, já claro quanto ao local da morte]
A Joaquina Paes[2]
hoje ainda
colocou as meias
verdes, pela
manhã cedo
(pouco antes
tinha saído para
o banho) junto
do roupeiro
claro, e alto: entre
o espelho quando
se entra,
e ao longo, e
larga («No princípio
era desfeita») a
minha cama.
III
[nota
de João torrêncio bompasto ao seu singular falecimento]
Morri hoje. Não
posso dizer
muito mais de
quem morreu:
fui eu.
Bruno Béu, in Meditações sobre o Fim: Os Últimos
Poemas, Lisboa, Hariemuj, 2012.
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