terça-feira, 26 de agosto de 2014

Merícia de Lemos. Tangentes


Verde

O verde espalhou-se no ar
e vem verde das árvores, das folhas,
das folhas que me olham como olhos.
Os meus olhos são folhas a olhar…
É verde o Sol, é verde a terra, é verde a água.
O canto dos pássaros é verde.
E são verdes:
todas as rosas que ainda não abriram,
todas as palavras que se não disseram,
todos os raios do Sol que se não guardam
e o murmúrio das fontes
e a ária que não cantamos
e os pinheiros, as acácias, os cedros,
o alecrim, o rosmaninho, o loureiro,
os craveiros, os musgos e as heras.
Os cisnes são negros e são brancos,
Para que os lagos pareçam mais verdes.
Há aves, borboletas e avelhas, verdes, verdes.
Há olhos de crianças muito verdes
e são verdes as ervas do campo.
Foi verde o violino que hoje canta.
Há beijos e abraços tão frescos que são verdes.
As rãs e as lagartas são folhas
Que por serem loucas se perderam.
Há verde-claro, vivo, negro e seco
E há o verde rico das esmeraldas

Merícia de Lemos, Tangentes, Lisboa, Ática, 1975.

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