quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A Condição Humana


Clappique estava cansado, e não contou mais que duas lindas histórias: a de um ladrão chinês que foi absolvido por ter entrado num buraco em forma de lira no Monte Pio, e outra: A Ilustre Virtude, há cerca de vinte anos domesticava uns coelhos. De um lado da alfândega interior estava a sua casa; do outro, as suas cabanas. Os guardas da alfândega, substituídos uma vez mais, esqueceram-se de prevenir os seus sucessores sobre a sua passagem quotidiana. Ele chegou com a sua cesta, cheio de erva "Ei! Mostre-nos essa cesta". Por baixo da erva, relógios, cadeias, lâmpadas elétricas, aparatos fotográficos. "É isso que dá de comer aos coelhos?" "Sim, senhor diretor das alfândegas" E (como se fosse dirigir-se aos coelhos), se não gostarem disto, não têm outra coisa.
-Oh! - Exclamou ela -. É uma história científica; agora já compreendo tudo. Os coelhos-campaínha, os coelhos-tambor, Sabe? Todos esses lindos animais que vivem tão bem na lua e em sítios semelhantes, e tão mal nos quartos das crianças; é daí que eles vêm ... Constitui uma dolorosa injustiça, essa triste história de Ilustre Verdade. E penso que os jornais revolucionários  vão protestar muito: porque, de verdade, tenha a segurança que os coelhos comiam aquelas coisas."


André Malraux, A Condição Humana.

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