quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Delírio Húngaro

I.


Tal como a Morfina, tiro a dor ao homem
Quem me olha nos olhos nunca mais será livre
Sou a mulher mais bela de todas as mitologias
Sou o paraíso em vida – o mais perigoso de todos,

Sou loucura criadora
Patrícia, a Irmã de Deus
Os meus filhos são todas as coisas, todas as possibilidades minhas filhas

Induzo os mais complexos suicídios,
Dou a vida e tiro a vida e não acho isso bem nem mal porque sou uma flor e as flores não julgam – são indiferentes e tristes
Aconselho os românticos alemães a pegarem nas suas espingardas e a lutarem por causas inúteis. Meto-lhes pólvora nas armas,
Provoco-lhes os Maiores prazeres

Sou feita de carne e não de luz –
Sou Nossa Senhora do Pólo Norte
a ver o sol pingar sobre o gelo:

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II.

Sou o sonho de um camelo deficiente,
o delírio das gémeas siameses
o pesadelo de quatro girafas recém nascidas
A paralisia é o contrário de Deus - dizias
Por baixo das minhas saias, afago-te a cabeça -
Sou as cinzas de um ditador a voar no bico de um corvo
todos os vendedores de marmelada na fronteira do Iraque
Por baixo das minhas saias – Amo-te como uma perdida

III.

Sou a possibilidade –na minha boca os bois lavram os campos,
Deixam as marcas carolinas das suas patas
O arado escreve na minha língua uma rima de Petrarca
Em letra carolina da mais perfeita caligrafia
Escrevo que te adoro em fluorescente métrica nova
As fadas papistas de tule Lambuzam-se de geleia e compotas
Sonhos: os mais doces, por exemplo
África partiu-se ao meio
na minha boca África inteira
Link, link, link, link

IV.


O medo de ficar sozinha, com a deusa da fertilidade a roer-me o útero
Os desejos mais fundos – de um operador de gruas
A boca cheia de neve Os cabelos a arder ao som da música – ruivos – os phones !
As nuvens do sonho são menos bonitas

Flocos de neve em Bruxelas, os anjos aquecem-se

Percorro todos os dias uma auto estrada de prata que vai até ao centro da tua alma
O prazer está em cada átomo,

em cada átomo – o universo

Os pasteleiros batem a massa em toda a Hungria
na Alta Hungriae na Baixa Hungria
Amanhã os meninos húngaros, os mais gulosos -
os pasteleiros húngaros, os mais tristes
- Olha para mim nos olhos
tenho os olhos tristes, dizias:
Os mais tristes de todos



Nuno Brito.




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