(...)
Começou
então o primeiro party. Alinharam-se uns a seguir aos outros, palavras
discretas e grande entendimento, de ali tu e aqui eu, além o Quinas, depois o
Edmundo para ver se fala o rapaz, e pareceu a todos assim sentados, vendo as
bocas dos sacos e as tampas dos cestos descobrirem-se, que a vida era uma coisa
doce, mansa, muito pomba, muito pomba. Ah, meus amigos, desçam as pálpebras e
vejam. Sintam para dentro com os olhos da alma. Tão bons estes domingos, estes
encontros civilizados, estas conversas sobre o nosso métier, o nosso entretém,
vejam, vejam para dentro e não nos falem do passado, por favor. Yes, not the
past. Rematava Sebastião Guerreiro já de olho alongado sobre o local da praia.
Mas sendo assim, em sua opinião, devia dar-se início à coisa. Simplesmente as mulheres ainda
zelavam com o olhar as asas de alguns cestos onde paninhos brancos e lavados
estavam muito direitos sobre. Um riso de simpatia. Era como se contivessem
dentro, ajoujados, meninos de peito, chuchas na boca, dormindo os seus soninhos
férteis entre mamadas. Ali eram pastéis de salsa, aqui eram doces. Fi-los de
manhã para que ainda viessem quentinhos do forno. Gostamos deles dentro de sainhas
de papel plissado com pérola no meio, e ficam bem, mesmo a matar, postos sobre
esta bandeja de casquinha que também trouxemos. Adoro as coisas feitas assim a
preceito. We love. Era a Zulmirinha Santos e Catrinita Mendes. Decompuseram
então os braços em gestos comedidos., alcanças e toma lá, escolhes e passas,
mais um bocadinho, sim obrigado. A vida tão boa, tão doce, tão mansa. Agora por
favor, retirem a vista do mar e ponham-na aqui.
Era
assim tão doce e tão pombinha.
(...)
Lídia
Jorge – O Cais das Merendas.Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1995.
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