segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sylvia Plath - Os Manequins de Munique



A perfeição é terrível, não pode ter filho.
Fria como a respiração da neve, põe um tampão no útero


Onde os teixos sopram como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida

A libertar as suas luas, mês após mês, sem nenhum objectivo.
O fluxo do sangue é o fluxo do amor,


O sacrifício absoluto.
Quer dizer: não há outro ídolo senão eu,


Eu e tu.
Assim, no seu sulfuroso encanto, nos seus sorrisos


Estes manequins dormitam esta noite
Em Munique, a morgue que fica entre Paris e Roma,


Nus e carecas nos seus casacos de pele,
Chupa-chupas de laranja em pauzinhos de prata

Intoleráveis, ocas cabeças.
A neve deixa cair os seus bocados de escuridão,


Não se vê ninguém. Nos hotéis
Mãos estarão a pôr os sapatos


À porta dos quartos para que os engraxem com carbono
Neles hão-de amanhã entrar enormes pés.


Ó a domesticidade destas montras,
As rendas de bebé, as folhas verdes de açúcar,


Alemães toscos a passar pelo sono metidos nos seus stolz largos.
E os telefones pretos no descanso

A brilhar
A brilhar e a digerir
Emudecidos. A neve não tem voz.


Sylvia Plath, Ariel - tradução de Maria Fernanda Borges.


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