sexta-feira, 18 de julho de 2014

Joaquim Cardoso Dias. Quarto Escuro


Estou demasiado perto
das coisas que não existem.
Devoro os meus animais
 e dou ar ao mundo,
com um dos seus cantores fascinados.
Sobre o que dissemos ontem, os dentes mais felizes.
E misteriosamente os braços são lindos.
Imaginam o que comiam se eu fosse
uma criança perfeita,
e têm pelos repetidamente fáceis de pensar.
Mas os outros já não existem na morte.
Tento acender outras imagens devoradas pelo tempo.
e sei que é por tua causa
que esta noite existe e se repete
a vida inteira.


Joaquim Cardoso Dias, in Meditações sobre o Fim: os últimos poemas, Lisboa, Hariemuj, 2012. (p. 116).

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