segunda-feira, 21 de julho de 2014

Nuno Moura. O Livro dos Livros

  
1.
Uma mulher vai na parte mais bonita da rua.


O seu gelado passa de boca em boca no passeio contrário
mas pouco dos galos a combusta.


Apetece-lhe chegar a casa e pôr a cabeça sobre os pêlos
do peito.


Ficava-lhe bem uma barba postiça lá para baixo
mas há muito tempo que não o faz.


Um cigarro antes de ir dormir.
Um beijo para acordar o charlie brown.
A camisola da ginástica perto do saco perdido de frio.


2.
Foi trágico.


O homem respondeu ao assobio para cão.


3.
Nos quartos por cima do alterne viking choque dance bar
uma mulher veste uma roupa própria para sair.


Não diz nada ao príncipe nem às colegas.


4.
Na cervejaria número noventa à esquina
em fora de horas
o feiticeiro não resiste em levar um chocolate para os
seus miúdos.


5.
A c-mais-s tinha instalações com pessoas dentro de
cadeiras
em salas abrancadas.


Como ele esperava uma aparição, tinha os olhos
vermelhos.


Acendeu o cachimbo. Atrasada como sempre ela viria
para a aula
das oito e meia.


Quando ele for o reitor, ou o governador, vai dizer que
quer governar muitos anos
e a rapariga vai dar-lhe um grande beijo entre as pernas.


Para ela é abraçar o poder.
Para ele é o cheiro do cloro que ela traz depois dos
treinos.


6.
Apanhou um táxi e disse, – um desastre quanto é?


Nuno Moura, O Livro dos Livros. Lisboa, Mariposa Azual, 2000.

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