Podias obedecer a um registo de
perder
o respeito, levantar a saia se a
tivesses,
alçar a perna se cão fosses, mandar
à merda
quem vem socorrer-te da vida e te
decepa os dedos.
Com um rigor de artilharia que
amortece o cansaço,
o combate quase parece sereno. De
vez em quando,
fazes a conta de cor e dizes apesar
de tudo, inspira-me
e não queres saber muito mais do
que isto.
Estás na vida como na montra alguns
relógios,
parado, e pensas numa sepultura no
mar, tudo
menos esta terra, tudo menos uma
corda, tudo menos
viver a pulso e ter de sacudir a
chuva contra o casaco.
Os dias sem prognóstico, vivendo
apenas para
esperar a madrugada, e que ela
venha como o cortejo
e aprendas a ficar.
Marta Chaves, Telhados de
Vidro n.º 16. Lisboa, Averno, 2012, p. 81.
Partilhado a partir de As Folhas Ardem de Manuel Margarido.
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