A tua boca
adormeceu
parece um cais
muito antigo
à volta da minha
boca.
Mas as palavras
querem voltar à terra
ao fogo do
silêncio que sustém as pontes
perdidas na sua
própria sombra.
E há um cão de
pedra como um fruto
que nos cobre
com o seu uivo
enquanto
pássaros de ouro com mãos de marfim
transplantam as
árvores transparentes
para o ponto
mais fundo do mar.
As lágrimas que
não chorei
arrependidas
fazem
transbordar a eterna agonia do mar
como um lençol
fúnebre
com que tivesse
alguém coberto o rosto metafórico
dos cinco
continentes que em nós existem.
Assim é ao mesmo
tempo
que sou eu e não
o sou
aquele relógio
das horas de ouro
que
além flutua.
Artur Cruzeiro Seixas, Homenagem à Realidade, 2005.
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