Em Ozu
as mulheres parecem conchas
macias do embate noutras pedras
arestas recolhidas e guelras
aparadas
nas garras de volfrâmio.
Porta-chaves contra balcões de
fórmica
por homens agitados
à busca de cervejas
Elas conservam
no meio da substância
onde o plástico coagulou em
estrela,
em sachada na lama
ou baba dejectal,
a mesma bolsa de ar que declina
a arte sedosa da astúcia.
Mimoso camarão
na férvida água chamariz,
natureza trivial recolhida
à inócua tintagem de drageia
assomando à papila
a ante-deleição,
carne desfibrada entre palato e
língua
até nada restar senão a ténue
espuma
que sobrenada o acto,
o gesto inclinado,
a subserviente postura lateral.
Fátima Maldonado, in Poemas Com Cinema: Organização de Joana Matos Frias, Luís Miguel Queirós e Rosa Maria Martelo, Lisboa, Assírio & Alvim, 2010.
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