Uma rapariga comia cerejas, descalça
na praia, e as ondas vinham e levavam os caroços. E no fundo do mar os caroços
davam cerejeiras. E no cimo, com os pés molhados e salgados, a rapariga comia
cerejas numa praia perto de Nagasaki. Um cogumelo de fogo e fumo formou-se no
ar e o mar contraiu-se com as cerejeiras no fundo. E a sombra da rapariga
continuou a comer a sombra das cerejas: E as sombras dos pára-quedistas desceram,
fluorescentes sobre a tarde roxa: e a sombra roxa recheou de susto os
pescadores; todos eles com ametistas nos bolsos mergulhavam no mar dourado do
fim da tarde.
Mais
tarde Mina cantaria Nagasaki Blues. A
música no fundo era um mambo mal tocado.
Nuno Brito, Creme de la Creme, Porto, Planeta Vivo, 2011.
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