segunda-feira, 3 de março de 2014



Uma rapariga comia cerejas, descalça na praia, e as ondas vinham e levavam os caroços. E no fundo do mar os caroços davam cerejeiras. E no cimo, com os pés molhados e salgados, a rapariga comia cerejas numa praia perto de Nagasaki. Um cogumelo de fogo e fumo formou-se no ar e o mar contraiu-se com as cerejeiras no fundo. E a sombra da rapariga continuou a comer a sombra das cerejas: E as sombras dos pára-quedis­tas desceram, fluorescentes sobre a tarde roxa: e a sombra roxa recheou de susto os pescadores; todos eles com ametistas nos bol­sos mergulhavam no mar dourado do fim da tarde.


Mais tarde Mina cantaria Nagasaki Blues. A música no fundo era um mambo mal tocado.

Nuno Brito, Creme de la Creme, Porto, Planeta Vivo, 2011.

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