Descobri isto nalgum
livro: Quando as escravas negras fugiam das plantações do Suriname, no século
XVIII, enchiam de sementes os seus cabelos compridos. Ao chegar aos refúgios,
na selva, sacudiam a cabeça e fecundavam, assim, a terra livre. Memorias de Fogo conta muitos instantes
desta história. Momentos como este, reveladores da maravilha ou do espanto da
aventura humana na América. Porque toda a situação é o símbolo de muitas, o
grande fala através do pequeno e o universo vê-se pelo buraco da fechadura. A
realidade, insuperável poeta de si mesma, fala uma linguagem de símbolos. Eu
comecei a escrever a trilogia no dia em que me dei conta, do que agora é me plenamente
evidente: a história é uma metáfora incessante.
Eduardo Galeano, Ser como ellos y otros artículos, México D.F., Siglo veintiuno editores, 1997.
(tradução minha)
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