sábado, 22 de março de 2014

Walter Benjamin

Há um quadro de Klee que se intitula Agelus Novus. Vê-se nele um anjo, no momento preciso em que se afasta de algo sobre o qual crava o seu olhar, tem os olhos desencaixados, a boca aberta e as asas estendidas. O anjo da história deve ter esse aspeto; a sua cara está virada para o passado. Naquilo que nos aparece como uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula sem cessar ruína sobre ruína e se deposita aos seus pés. O anjo quer deter-se, despertar os mortos e recompor o que está despedaçado. Mas uma tormenta desce sobre o Paraíso e faz remoinhos sobre as suas asas e, é tão forte, que o anjo não as pode mover. Esta tempestade arrasta-o irremediavelmente até ao futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto a acumulação de ruínas sobe diante dele até ao céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.


Walter Benjamin, Tese da Filosofia da História, in Ensaios Escolhidos.

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