terça-feira, 11 de março de 2014

Guy de Maupassant: Bel-ami

Tomaram um carro descoberto, subiram os campos Elísios e enfiaram pela avenida do Bosque. Estava uma noite sem vento, uma dessas noites de estufa em que o ar de Paris extremamente aquecido entra no peito como a baforada de um forno. Um regimento de trens conduzia para debaixo das árvores uma multidão de amorosos. Rodavam umas atrás das outras, sem cessar, essas tipoias. Jorge e Madalena entretinham-se a observar aqueles pares enlaçados, passando nas carruagens, a mulher de vestido claro e o homem de escuro. Era uma onda imensa de amantes que transbordava para o Bosque sob o céu estrelado e ardente. Só se ouvia o surdo ruído das rodas no chão. Passavam, passavam, os dois seres de cada carro recostados nos coxins, calados, muito juntos um do outro, perdidos na alucinação do desejo, estremecendo na ânsia da próxima posse. As trevas abafadiças pareciam cheias de beijos. Uma sensação de ternura flutuante, de amor bestial extravasado, pesava no ar, tornava-o mais ardente ainda. Todas aquelas criaturas, embriagadas do mesmo pensamento e do mesmo ardor, faziam correr em volta como uma espécie de febre. Todas estas carruagens conduzindo amor, sobre as quais pareciam voltear carícias, deixavam à passagem como que um hálito sensual, subtil e perturbador.



Guy de Maupassant, Bel-ami, 1885.

Sem comentários:

Enviar um comentário