Tomaram um carro
descoberto, subiram os campos Elísios e enfiaram pela avenida do Bosque. Estava
uma noite sem vento, uma dessas noites de estufa em que o ar de Paris
extremamente aquecido entra no peito como a baforada de um forno. Um regimento
de trens conduzia para debaixo das árvores uma multidão de amorosos. Rodavam
umas atrás das outras, sem cessar, essas tipoias. Jorge e Madalena
entretinham-se a observar aqueles pares enlaçados, passando nas carruagens, a
mulher de vestido claro e o homem de escuro. Era uma onda imensa de amantes que
transbordava para o Bosque sob o céu estrelado e ardente. Só se ouvia o surdo
ruído das rodas no chão. Passavam, passavam, os dois seres de cada carro
recostados nos coxins, calados, muito juntos um do outro, perdidos na
alucinação do desejo, estremecendo na ânsia da próxima posse. As trevas
abafadiças pareciam cheias de beijos. Uma sensação de ternura flutuante, de
amor bestial extravasado, pesava no ar, tornava-o mais ardente ainda. Todas
aquelas criaturas, embriagadas do mesmo pensamento e do mesmo ardor, faziam
correr em volta como uma espécie de febre. Todas estas carruagens conduzindo
amor, sobre as quais pareciam voltear carícias, deixavam à passagem como que um
hálito sensual, subtil e perturbador.
Guy de Maupassant, Bel-ami, 1885.
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