segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Anais Nin




Louis não havia maneira de ter sono. Deitado de barriga para baixo, cabeça enfiada  na almofada, começou a roçar-se pelos lençóis tépidos, como se fosse um corpo de mulher. Mas essa fricção ainda mais o excitou, pelo que resolveu parar.
Saltou da cama e olhou para o relógio. Eram duas horas. Que fazer para se acalmar? Resolveu sair. A lua cheia iluminava o caminho. o sítio, uma praia na costa normanda, estava cheio de vivendas que se podiam alugar por noite ou à semana. Louis foi vagueando por ali à toa. Até que viu luz numa das vivendas. Era uma isolada, no meio do arvoredo. Ficou intrigado ao ver que ainda havia gente a pé àquela hora. Aproximou-se sem fazer barulho; as suas pegadas desapareciam na areia. As persianas estavam corridas, mas não até baixo, de modo que podia ver à vontade o que se passava lá dentro. Deparou-se-lhe um espectáculo dos mais extraordinários: uma cama muito larga, coberta de almofadas e mantas em desordem, como se tivesse havido ali uma grande batalha; a um canto, um homem enfiado numa pilha de almofadas, levemente reclinado, à laia de um paxá no meio do seu harém, ar calmo e satisfeito, completamente nu, pernas abertas; e, igualmente nua, uma mulher que Louis só podia ver de costas, com a cabeça enfiada entre as pernas do paxá, agitando-se em contorções várias, as quais pareciam dar-lhe um tal prazer que o seu rabo todo ele vibrava e os músculos das pernas se retesavam, como se estivesse pronta a saltar.
De vez em quando o homem poisava a mão na cabeça da mulher, como que a conter a sua fúria. Tentava libertar-se. Mas ela então levantou-se num salto e pôs-se em cima do paxá, ajoelhada contra a cara dele. Assim já ele não se podia mexer. Ficava com a cara mesmo por baixo do sexo dela que, encolhendo um pouco a barriga, se deixou ficar naquela posição. Como ele não podia fazer o mais pequeno gesto, era ela que tinha de se chegar à boca dele, que ainda lhe não tocara. Louis viu o sexo do homem erguer-se e alongar-se. tentou pôr a mulher em cima dele. Mas ela continuou na mesma posição, admirando o seu próprio ventre, tão perfeito, os pêlos, o sexo mesmo junto à boca dele.
Depois, devagar, devagarinho, foi-se erguendo mais e, curvando a cabeça, ficou a olhar para aquela boca que, entre as suas pernas, salivava de prazer.
Mantiveram-se nessa posição durante longos momentos. Louis estava num tal estado de excitação que se afastou da janela. Se tivesse ali ficado mais tempo, atirar-se-ia para o chão e satisfaria o seu desejo de qualquer maneira, mas isso não queria ele.
Nisto teve a sensação de que em cada vivenda daquelas deviam estar a passar-se coisas de que ele gostaria bem de tomar parte. Estugou o passo, obcecado pela imagem daquele homem e daquela mulher, da barriga redonda e rija da mulher, toda arqueada por cima do homem...


Anais Nin - A mulher nas dunas in Passarinhos.



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