Quando paro e me encosto a um candeeiro para acender um cigarro, até o candeeiro me parece amigo. Não é uma simples coisa de ferro: é uma criação da mente humana, com certo feitio, dobrada e formada por mãos humanas, soprada por hálito humano, colocada por mãos e pés humanos. Viro-me e passo as mãos pela superfície de ferro. Quase parece falar-me. É um candeeiro humano. Pertence, como a folha de couve, como as peúgas rotas, como o colchão, como a pia da cozinha. ocupa tudo uma certa posição, num certo lugar, como a nossa mente em relação a Deus. O mundo, na sua substância visível, tangível, é um mapa do nosso amor. E, no seu meio mais meio, no meio do seu meio, caminha este jovem, eu próprio, que não é outro senão Gottlieb Leberecht Müller.
Henry Miller - Trópico de Capricórnio.
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