segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dacia Maraini


Casa de mulheres

Lulú é siciliano. Tem vinte e oito anos. Um corpo de atleta. Um membro preto comprido e torto. Uma cara que parece uma estátua grega. Os olhos como uma coruja, grandes redondos e amarelos. Os dentes como um cão novinho. Os cabelos encaracolados e rijos. Fala do meu corpo. É o que ele quer. Uma adoração paciente e muda do seu belíssimo corpo de atleta.  És belo, tens um belo peito largo e bem desenvolvido, tens uns belos ombros, tens um belo pescoço ... o seu membro incha e incha ... Parece que vai rebentar. Mas não quer que eu o masturbe. Devo só tocar-lhe com a ponta dos dedos. Mas o meu rabo... Não disseste nada do meu rabo. Desculpa, tens um rabo lindíssimo. Ele vaidoso, volta-se. Um cu louro, pequeno e frágil. É estranho aquele rabo numa pessoa tão grande. Às vezes pede-me que lhe meta um lápis lá dentro. Um de ponta redonda e que tenha borracha no fundo. Nesta altura tem um orgasmo calmo e curto que o abala um momento como se fosse presa das convulsões, depois sossega, dá-lhe sono. Ainda deitado de costas. De olhos fechados, falando devagarinho para ele próprio. às vezes oiço-o a falar da mãe... Depois levanta-se. Dá-me duas notas.

...

Lulú veio hoje todo vestido de azul. Disse que vai casar. Mas quando? Daqui a duas horas. E o que vens cá fazer? Despe-me Manila ... E Manila ali com as mãos de fada a despir o grande guerreiro siciliano, o belo peito, a bela piça, vai-se casar daqui a duas horas com a mulher do coração...
Veio-se antes do costume, mal lhe meti o lápis no cu,  e depois acendeu um cigarro e falou-me da noiva, este marujo... Caso-me para sair de casa, sabes... É uma rapariga loira e bonita, de olhos azuis. Quase não fala, nem sei se me ama, mas tem umas belas mãos e umas mamas! Não gosto de como fode. Parece um bacalhau. Não se mexe, não colabora. Fica ali estendida como um talo de couve e não diz nada, não mexe um dedo... É bonita e está sossegada, não chateia. Disse-me que foi violada pelo pai. É frígida, creio. De noite abraça-me muito e eu caso com ela por causa desses abraços. Gosto muito, mesmo muito de dormir abraçado... Até aos treze anos dormi abraçado à minha avó. Depois ao meu primo, às vezes à minha mãe. Às vezes com o gato. Não consigo dormir sozinho. Vem-me uma tristeza, disse o marujo... Mas continuo a vir Manila, tu sabes de que é que eu gosto! Agora dá-me um beijo de parabéns pelo casamento.
Pagou-me o dobro do costume. 

Dacia Maraini - Casa de Mulheres.



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