segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

António Franco Alexandre



Aracne

Formoso amigo meu, podes cantar à lua
e amar outros mais lestos do que eu.
roer um osso, admirar as estrelas,
seres sábio e humano, além de belo.
Já vi que escreves um diário, com
as patas firmes, o pêlo luzidio,
e versos, onde porém há sempre
uma sílaba a mais, presa por fios.
Pouco te importas se eu existo ou não,
e ignoras, das aranhas, o tormento
quando a teia se rasga e é urgente
tomar medidas, e tecer, à espreita
de alguma inócua presa imprevidente.
Voas tão solto, lá no firmamento,
que te tomam por pássaro ou cometa;
e meditas em vastos pensamentos... só não sabes
que ao rasgares o meu leito aqui deixaste
uma gota de sangue, a que estás preso.


António Franco Alexandre, Aracne.




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