quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Rui Pires Cabral



«Do coração da noite vinham apelos e silêncios»1
Para o João Menau

As cidades doem, estão dentro de nós
mantidas por laços de fumo e desejo,
têm muros úteis e portas escondidas
que dão para a noite, como certos livros,
e há amores que vivem a horas tardias

e outros que se cortam no fio da trama,
queimam paus de incenso para abrir
caminhos, remover obstáculos, há curvas
e arcos, ecos desolados, quartos de ninguém.
As cidades cansam, estão nos nossos

dias, têm mil janelas de azul virtual
que nunca sossegam e nunca terminam
e há corpos que ensinam a temer a morte,
sombras que circulam nas redes do escuro
e homens que ferem para não chorar.

1Albert Camus, A Morte Feliz [tradução de José Carlos González], Livros do Brasil, Lisboa, s/d, p. 102.
Rui Pires Cabral, Oráculos de Cabeceira, Lisboa: Averno 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário