quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Luis Buñuel

NÃO ME PARECE BEM NÃO ME PARECE MAL

Eu creio que por vezes nos contemplam
à nossa frente      atrás de nós     ao nosso lado
uns olhos rancorosos de galinha
mais temíveis do que a água podre das grutas
incestuosos como os olhos da mãe
que morreu no patíbulo
pegajosos como um coito
como a gelatina que os abutres engolem

Creio que hei-de morrer
de mãos espetadas na lama dos caminhos

Creio que se me nascesse um filho
ele quedar-se-ia eternamente a olhar
as bestas que copulam ao entardecer


Sem comentários:

Enviar um comentário