quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Miguel Martins

O taberneiro


Eu sou O TABERNEIRO-da-cintura-para-baixo e cara de cavalo relinchando aos pagodes, mijando nas traseiras de Notre Dame de Damn You, trombando uma defunta num sonho de luz branca. Vinde dizer-me agora que agora é que começa essa novíssima Volta a Portugal de que saireis vencedores-de-vozes-cristalinas-e-piscinas-nos-bolsos-resguardados...– do alto destas pirâmides, responde Napoleão, uma chuva de das Caldas vos contempla; e avoengos, trajando neve e medos, não hesitarão, sequer, no arremesso. E eis que entra um côro de gospel fumegante, ressaca bacanal já pronta para outra, e me embala menino-dos-ditos-saraivada-«tu sabes lá o que é que tás páí a dzer». «É verdade, não sei, eu sou O TABERNEIRO, li Stendhal, Sade, Camilo, Hugo e Zweig sentado numa pipa de mecha ainda acesa, pelo qu'é natural a pouca retenção; desculpem se me cago – almocei a correr e já bebi três litros de sobras clientelares.»




Miguel Martins, O Taberneiro, Poesia Incompleta, 2010.

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