PONTA DO SOL

para a Inês

Havia um arco sobre o mar
e falésias onde o vento
doía muito. Tive medo
de encenar tão concretamente
a minha morte. O próprio restaurante
(lágrimas com bife do lombo)
avançava pela rocha dentro
numa espécie de resignação feliz
a um tempo menos capaz de ser tempo.
Mas chega a parecer ridícula
esta obstinação
de quem no mundo procura apenas
o inexistente fim do mundo.
Choravas, doutra maneira,
a juventude derrotada,
desatenta ao alarme das gaivotas
e que já nem o garrote da memória salva.


Manuel de Freitas, Telhados de Vidro nº 1, Averno.